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28.10.05

APRENDENDO COM AS CRIANÇAS

EXTOS PARA O BLOG

Os casais em processo de divórcio enfrentam uma dificuldade extra quando existem crianças: ter que anunciar que os pais vão separar-se. Esta conversa é de tal modo angustiante para alguns, que vai sendo adiada de forma sistemática.


Há uns anos recebi um casal cujo pedido de ajuda se prendia com esta dificuldade. O divórcio era já uma certeza para ambos, mas não sabiam como dar a notícia ao seu filho único.


Depois de duas ou três conversas, sentiam-se finalmente preparados para lidar com as eventuais reacções da criança. Propusemos que a conversa ocorresse nesse intervalo e que, na consulta seguinte, fizéssemos um balanço. No entanto, o casal foi surpreendido com uma reacção que não tinha sido antecipada: o filho já tinha conhecimento da decisão há alguns meses e tinha feito uma preparação para esta conversa. Recorreu à Internet, fez pesquisas sobre o divórcio e reuniu alguns tópicos sobre as consequências deste passo para a vida das crianças envolvidas. Entre outras coisas, referiu ter conhecimento de que o rendimento escolar poderia ser abalado.


O mais importante nesta história é o facto de esta criança ter sofrido sozinha ao longo de um período significativo. Este menino apercebeu-se da decisão dos pais, fez o seu “luto”, e geriu os seus medos e as suas dúvidas absolutamente sozinho! Mais: procurou argumentos que o ajudassem a impedir que os pais fossem para a frente com a separação.


Como foi possível que os pais não tivessem dado conta? A resposta é simples: nós, adultos, vivemos com a ilusão de que as crianças percebem pouco acerca do nosso mundo. Nada poderia estar mais longe da realidade. As crianças são inteligentes, são sensíveis, e também conseguem respeitar os nossos silêncios.


O facto de os filhos não colocarem questões sobre um determinado tema não significa que este lhes seja alheio, ou que não se angustiem por causa dele. Cabe aos pais proporcionar um ambiente favorável para que as conversas ocorram.


O silêncio até pode dar-nos a ilusão de que está tudo bem, mas não passa disso mesmo: uma ilusão.

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