A incapacidade de ultrapassar as discussões é um dos principais motivos por que os casais recorrem à terapia conjugal. Não é o conflito que os leva a pedir ajuda, mas a frequência e a intensidade anormais. Para muitos casais, essas alterações são o sinal de alarme. Ninguém gosta de discutir, muito menos com o cônjuge. Mas isso não quer dizer que eu receba um pedido de marcação de consulta por cada vez que um casal discute! Felizmente, os casais aprendem a lidar com o conflito. Os momentos de tensão são propícios à ocorrência de erros, mas a sua assunção é importante para a aprendizagem da vida a dois. Por isso, o conflito não é mau em si mesmo. Pelo contrário, faz parte da conjugalidade. Como se situarão, então, os casais que não discutem, à luz deste princípio? Serão mais felizes? Já terão aprendido tudo? Duvido. Todos os casais que passam pelo meu consultório merecem a minha preocupação, mas, quando um casal me diz que nunca discute, os meus “alarmes” soam efusivamente. De facto, tudo está mal quando duas pessoas que se assumem como um casal não discutem, já que isso implica que não estejam a ser capazes de partilhar a sua intimidade. Se olharmos à nossa volta, apercebemo-nos de que quanto maior o grau de intimidade que desenvolvemos em relação a determinada pessoa – pai, mãe, irmão, amigo ou cônjuge – maior a probabilidade de haver atrito. A intimidade advém da exposição, da partilha de perspectivas. E, como não há duas pessoas iguais, algures nessa partilha há divergências para gerir. Nem todas as diferenças são resolúveis numa relação conjugal. Na verdade, poucas dão origem a soluções perfeitas. Mas é possível geri-las. E isso só é possível se as pessoas discutirem sobre aquilo que (aparentemente) as separa. Se os membros do casal não forem capazes de assumir as suas divergências e adoptarem de forma sistemática comportamentos passivos (fuga), o fosso entre eles tenderá a agudizar-se e a frieza substituirá todos os afectos. A ausência do conflito enquanto componente “natural” da relação conjugal pode resultar de experiências traumáticas vividas na infância ou em relações amorosas anteriores. Além disso, a idealização excessiva acerca do casamento também pode impedir que o casal reconheça a importância das discussões. Independentemente destes factores, é possível ultrapassar estes silêncios gritantes. Basta que o casal se predisponha a aprender a discutir, mesmo que, para isso, seja preciso pedir ajuda. |
29.11.05
CASAIS QUE NÃO DISCUTEM
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Conjugalidade