As taxas de casamento têm vindo a baixar (ligeiramente) em Portugal. Paralelamente, os jovens casais optam cada vez mais pela união de facto, pelo menos numa fase inicial. Esta opção permite-lhes prolongar o processo de aprendizagem/adaptação característico do namoro e fomentar certezas quanto aos objectivos comuns.
Em última instância, se as coisas não correrem bem, o casal separa-se e ambos podem reconstruir a sua vida sem passar pela experiência do divórcio. Deste modo, o sofrimento provocado pela separação não é agravado pelas burocracias jurídicas, nem é acompanhado da mesma pressão social. Talvez por isso, algumas pessoas afirmam que já se sentem casadas e que não precisam de “assinar um papel”.
Não distingo, em termos terapêuticos, os casais que oficializaram a relação daqueles que optaram por viver em união de facto. Contudo, não posso concordar com a ideia de que o casamento possa resumir-se à assinatura de um contrato. Onde foi parar o romantismo?
O casamento sempre teve uma forte carga simbólica e não consigo perceber exactamente em que período da História recente é que o conceito se alterou. Interrogo-me, por isso, sobre o peso do hiper-realismo nestas decisões. Se os membros do casal partirem para a vida a dois demasiado contagiados pelo fantasma do divórcio, o investimento emocional na relação conjugal sairá prejudicado.
Não concebo o casamento como um compromisso “cego”, em que duas pessoas se disponibilizam para viver juntas até que a morte as separe, aconteça o que acontecer. Mas uma relação conjugal satisfatória requer algumas “ilusões” e menos frieza. Amar é acreditar que é possível ficar com aquela pessoa para sempre. E isso tem pouco a ver com qualquer tipo de hiper-realismo.
Em termos práticos também há repercussões: quanto maior for o investimento emocional dos membros do casal, maior a sua capacidade para lidar com as dificuldades, as divergências e os obstáculos inerentes a uma relação conjugal. É dessa construção que saem as forças que impedem os membros do casal de se separarem à primeira desavença.
Este texto não é um acto de propaganda ao casamento. Mais do que isso, gosto de pensar que a cultura hedonista em que estamos mergulhados não deve afastar-nos dos sonhos a longo prazo.