Há uns anos uma colega, também psicóloga, partilhou numa acção de formação o sofrimento por que passou aquando das primeiras saídas nocturnas do filho. Infelizmente para ela, estas saídas de fim-de-semana prolongavam-se até o sol raiar. Infelizmente para ele, se alguma sirene soasse durante a madrugada, a mãe esperá-lo-ia enervadíssima.
O problema desta minha amiga tinha um nome: pensamentos irracionais. Apesar de todas as tentativas para racionalizar a questão, ela acreditava que o som de uma sirene enquanto o filho estivesse na “night” SÓ PODIA QUERER DIZER UMA COISA – algo de grave acontecera ao seu “menino”.
Como é óbvio, o adolescente cresceu e continuou a fazer noitadas. A minha colega “ultrapassou” o problema aproveitando o aparecimento dos telemóveis (e implementando algumas técnicas cognitivo-comportamentais).
Os pensamentos/crenças irracionais podem atingir todo o tipo de pessoas (mesmo os psicólogos), nas mais diversas situações. O pior é que, quando somos assolados por esse tipo de pensamentos, tendemos a desenvolver comportamentos desajustados.
Imaginem o seguinte exemplo: uma pessoa introvertida entra num café alguns instantes depois de alguém contar uma piada. O mais provável é que aquela pessoa fique com a sensação (errada) de que estão a rir-se de si. Este pensamento pode agudizar o retraimento social e contribuir para o evitamento de lugares públicos. O mais irónico é que bastar-lhe-ia perguntar a uma das pessoas presentes o motivo dos risos e toda a história teria um rumo diferente: perceberia contexto da risada, talvez conseguisse achar piada à situação e não pensaria em deixar de frequentar aquele tipo de estabelecimentos.
Algumas correntes da Psicoterapia defendem, por isso, que grande parte dos nossos problemas se resolveriam se fossemos capazes de desmontar as nossas crenças irracionais e desenvolver comportamentos mais ajustados.