Embora os ciúmes representem sempre o medo de perder a pessoa amada, na maior parte dos casos eles não chegam a afectar a relação. Algumas pessoas até os consideram o “sal” do casamento, na medida em que isso é demonstrativo do quanto duas pessoas gostam uma da outra. Podemos, por isso, falar em ciúmes normais sempre que estes não impliquem constrangimentos sérios ao comportamento dos cônjuges.
No entanto, a partir do momento em que um dos membros do casal pressiona o outro no sentido de alterar o seu comportamento, com implicações sérias no quotidiano, passamos a falar de ciúmes patológicos. Nestes casos, a pessoa que é alvo dos ciúmes começa por fazer algumas cedências aparentemente normais no sentido de evitar a ansiedade do cônjuge. Estas cedências são baseadas na ideia de que o amor pelo outro é mais importante do que o comportamento em causa.
Qual é, então, a fronteira entre o ciúme normal e o patológico? A partir de que altura é que o ciúme deixa de ser o “sal” da relação? A resposta é simples, ainda que subjectiva: os problemas começam com a alteração do comportamento. Se a própria pessoa considera que o seu comportamento é ajustado, não deverá fazer cedências no sentido de o alterar. A possibilidade de esse comportamento gerar ansiedade no cônjuge pode e deve ser combatida através do diálogo. A ambiguidade é desencadeadora de insegurança, pelo que é importante assegurar ao companheiro que o comportamento é inócuo.
Existem muitas formas de se expressar o amor conjugal, mas a desconfiança não deve ser uma delas. Pelo contrário, a disponibilidade para conversar sobre possíveis medos e angústias deve existir e é geradora de união e confiança.
O ciúme também pode estar presente de forma mais ou menos latente. Isto é, a pessoa que sofre de ciúmes pode, nalguns casos, evitar partilhar com o cônjuge estes receios. Claro que a falta de diálogo tende a prejudicar a relação, já que, mesmo sem o saber, o cônjuge que é alvo dos ciúmes pode alimentar a insegurança.
Uma das formas mais eficazes de promover o diálogo entre os membros do casal é associar a franqueza à ausência de juízos de valor. De facto, será sempre mais fácil para o cônjuge ciumento partilhar os seus sentimentos se não for alvo de gozo ou menosprezo. Este diálogo propiciará a revelação das necessidades de cada um e esclarecerá mal-entendidos e eventuais distorções da realidade.
Também é importante realçar que o ciúme está directamente associado à falta de auto-estima, pelo que, nalguns casos, o cônjuge ciumento não consegue, sozinho, dar resposta às dificuldades manifestadas. A intervenção terapêutica pode ser útil na resolução destes problemas.
Algumas pessoas descrevem-se como extremamente inseguras e azarentas por coleccionarem relações em que são traídas. A verdade é que uma relação dificilmente resiste a este tipo de dificuldades. No caso de um casal entrar no ciclo vicioso que descrevi, é relativamente fácil que, mais cedo ou mais tarde, o cônjuge que é alvo dos ciúmes queira ficar com a fama e o proveito. A falta de confiança abre espaço para que o outro se sinta insatisfeito, encurralado e, consequentemente, com vontade de encontrar uma forma de sair da relação. Sem saber, a pessoa ciumenta pode incentivar a infidelidade.