Muitos casais descrevem as dificuldades de natureza financeira como o motivo desencadeador da ruptura. Contudo, também existem situações em que a falta de dinheiro é descrita como factor de união entre os membros do casal. Além disso, a experiência terapêutica demonstra que as dificuldades financeiras são apontadas por casais pertencentes a todas as classes sociais, pelo que o problema merece ser sistematizado de outra forma.
Mais do que a falta de dinheiro, aquilo que pode desencadear a ruptura conjugal é a falta de uma gestão financeira a dois eficaz.
Muitas pessoas, ainda que estejam casadas, sentem sérias dificuldades em partilhar a gestão do seu ordenado com o cônjuge. Ainda que a relação sobreviva algum tempo sem esta partilha, é natural que os problemas surjam a partir do momento em que haja filhos.
Por outro lado, o adiamento do casamento em favor da progressão na carreira está directamente associado ao enraizamento de hábitos respeitantes à gestão financeira. Contudo, alguns casais partilham esta gestão ainda durante o namoro. Esta tomada de posição pode facilitar a adaptação depois do casamento (ou união de facto).
Pelo contrário, os casais que não incluem a gestão financeira no seu projecto a dois, abrem espaço para o aparecimento de problemas.
Construir uma família, um projecto de vida, implica que, do ponto de vista financeiro, o casal consiga ir além das regras da co-habitação. De facto, não basta definir as despesas regulares e fazer uma divisão equitativa no final do mês.
Alguns casais optam por criar uma conta conjunta para a qual ambos contribuem no sentido de fazer frente às despesas comuns – renda da casa, água, luz, telefone, etc. A contribuição de cada um varia – nalguns casos há uma divisão equitativa, noutros a divisão é feita proporcionalmente ao ordenado de cada um. As duas situações acarretam riscos e não traduzem um projecto a dois.
Este formato cria a ilusão de que o casal encontrou o equilíbrio perfeito entre partilha e autonomia. Na verdade, as despesas de uma família são muito voláteis e não podem estar sujeitas a fórmulas matemáticas. Mais do que isso: onde é que entram aqui os sonhos partilhados?
Se um casal evitar fazer esta partilha e se centrar na gestão individual de cada ordenado, estará a criar uma grande lacuna. Mais cedo ou mais tarde um dos membros do casal reclamará por existirem desequilíbrios. Além disso, esta situação tende a criar consumos escondidos, o que aumentará a falta de confiança entre os cônjuges.
A chegada dos filhos tende a agudizar as dificuldades sentidas pelos casais que optam por fazer estas divisões. De facto, as fórmulas são ainda mais desadequadas quando se tem filhos – além de os imprevistos serem maiores, as crianças tenderão a ser prejudicadas pela ausência de um projecto familiar com repercussões ao nível da gestão financeira. Por outras palavras, o “dinheiro do pai” e o “dinheiro da mãe” não lhes farão muito sentido.
É importante salientar que, em caso de separação, estas pessoas sentirão maiores dificuldades em fazer a divisão das despesas inerentes aos filhos e tenderão a enveredar por divórcios litigiosos. Consequentemente, a sua postura num segundo casamento requererá uma grande aprendizagem a este nível.