Seja qual for a profundidade da análise do tema, o divórcio é unanimemente considerado um acontecimento stressante e com impacto considerável em todas as áreas da vida. Se, por um lado, é verdade que se trata de um passo cada vez mais banal no ciclo de vida, também é certo que quem vive a experiência a sente como incomensuravelmente devastadora. As únicas perdas superiores a um processo de divórcio são, como já referi, a morte de um membro da família nuclear (cônjuge ou filho). Com a devida distância, a separação conjugal também envolve um processo de luto. E este pode ser mais ou menos intenso, mais ou menos patológico. Pouco importa quem avançou com a decisão. Nem adianta pensar que quem traiu sofre menos. As circunstâncias que potenciaram o fim da relação raramente funcionam como anestésicos. Trata-se do fim de um projecto de vida, no qual, à partida, ambos investiram. Daí que pensamentos do tipo “Fracassei!” teimem em não sair da cabeça. Quando há filhos a angústia é maior. E nem os exemplos de sucesso conseguem aliviar a dor associada à culpa por não se conseguir manter a família unida. Mas na generalidade dos casos, o tempo permite que o desespero dê lugar à reconstrução. Tal como noutro processo de luto, a dor não é substituída pelo esquecimento, mas a mágoa desaparece e o futuro passa a ser encarado com optimismo. Algumas pessoas têm mais sorte do que outras: o apoio da família e dos amigos não é uma realidade comum a todos os casos. Quanto mais forte for essa rede de suporte, mais rápido é o processo de recuperação. Os juízos de valor que algumas pessoas impõem a quem está a divorciar-se mascaram muitas vezes casamentos infelizes combinados com falta de coragem. A dor de quem vive esta experiência não pode ser acompanhada de sermões ou críticas severas. Os pais devem colocar o amor pelos seus filhos acima de quaisquer convenções ou moralismos, apoiando-os e fazendo com que se sintam compreendidos. Do mesmo modo, os verdadeiros amigos não permitem que o fim de uma relação represente o fim de uma amizade, estabelecendo alianças perversas com um dos membros do ex-casal. Infelizmente, o divórcio representa, para algumas pessoas, a ruptura com grande parte da sua rede social. Depois das perdas vem inevitavelmente a renovação. À medida que o processo de luto é feito, a pessoa divorciada reconhece os erros cometidos, faz novas aprendizagens e consegue recordar-se de momentos positivos. Olha para trás e vê para lá da tempestade. Isso quer dizer que está pronta para voltar a amar, sem mágoas. Ao longo deste período, algumas pessoas “enfiam a cara” no trabalho. Outras encontram conforto na família alargada ou no ombro dos amigos. Outras dedicam-se a actividades lúdicas, desportivas, pedagógicas ou de voluntariado. Sem o saber, partilham uma característica: são lutadoras. A resposta à provocação do título é, obviamente, SIM! O divórcio não representa o fim da linha. Como todas as crises, implica um conjunto de desafios e oportunidades. Nada será como antes. Nenhum outro modelo familiar corresponderá ao que fora idealizado no altar. Mas há milhões de pessoas felizes que ultrapassaram esses constrangimentos. |
6.2.06
HÁ VIDA DEPOIS DO DIVÓRCIO?
Etiquetas:
Divórcio