Apesar de este ser um blogue sobre Psicologia e sobre o meu trabalho como Psicóloga, qualquer leitor atento percebe que há temas mais recorrentes do que outros. As áreas da Psicologia não aparecem aqui contempladas de forma equitativa, nem é esse o meu objectivo.
Porque há temas com que trabalho mais frequentemente e, sobretudo, porque há temas pelos quais me interesso mais, é também sobre eles que mais escrevo. Assim, o amor, o casamento e as diversas facetas da conjugalidade são as matérias mais exploradas. E o facto de ser terapeuta conjugal leva-me a partilhar as fragilidades por que passam alguns (muitos) casais e a questionar os porquês de cada crise conjugal.
Mas se é verdade que lido diariamente com casais que se sentem insatisfeitos, também é verdade que boa parte do meu tempo é dedicada a trabalhar no sentido de os ajudar para que se sintam progressivamente mais felizes. Não me sinto, por isso, contagiada por qualquer pessimismo em relação ao amor e ao casamento, ainda que este esteja mais ou menos generalizado na nossa sociedade.
Existem muitas histórias de amor que contribuem para o meu optimismo. Elas estão à minha volta, no meu trabalho em contexto clínico, no meu dia-a-dia, na minha família, na literatura da especialidade e nos (muitos) estudos realizados com casais felizes. Dessas histórias é natural que advenham algumas pistas quanto ao que cada um de nós procura numa relação conjugal.
Por isso, quando falo em pilares do amor, como o apoio emocional ou a expressão verbal, não falo de cor. Reporto-me à minha experiência, ao meu trabalho diário e à literatura da especialidade, que consome grande parte da minha atenção.
Estes “parâmetros de qualidade”, chamemos assim, são referências que considero importantes – tanto para a minha vida profissional, quanto pessoal – o que não quer dizer que acredite que é possível atingir a perfeição em qualquer destas áreas da conjugalidade.
O bem-estar – em geral e o bem-estar conjugal, em particular – não advém da perfeição. Senão, não haveria pessoas felizes. Não sendo perfeitos, ambicionamos ser aceites com o “pacote” todo, ou seja, desejamos ser amados, apesar dos nossos defeitos e limitações. Então, como poderíamos ambicionar que o nosso companheiro fosse perfeito? Que legitimidade teríamos para ambicionar uma relação perfeita? E que seca seria…
O facto de o nosso cônjuge não corresponder ao que está descrito nos livros sobre Psicologia do Casal não deve ser motivo de frustração, já que a verdade é que nós próprios também estamos longe de atingir essas metas.
O que quero dizer é que o optimismo e a vontade de melhorar a relação conjugal não podem ser confundidos com idealização excessiva. A ideia de que existem casamentos perfeitos está na base de alguma resistência em relação ao compromisso (e ao amor) por gerar sempre uma luta inglória.
O título da tese de doutoramento da Professora Isabel Narciso ilustra de forma magnífica esta questão: “Conjugalidades satisfeitas mas não perfeitas”. Não é isso que ambicionamos?