Quando nos contactaram estavam quase a completar trinta anos de casados e, no entanto, pareciam dois estranhos. Não partilhavam interesses, nem tão pouco sabiam como usufruir dos momentos a dois. Pior: se estivessem muito tempo sozinhos, sentiam-se constrangidos, sem saber o que fazer ou dizer.
Algumas pessoas adoptam, ao longo dos anos, hábitos nocivos à relação conjugal. Deixam de conversar abertamente sobre o que os preocupa, deixam de partilhar as suas frustrações e angústias… às vezes para se pouparem mutuamente. Mas o tempo não resolve, sozinho, estas dificuldades e o fosso instala-se.
No meio da rotina diária, algumas pessoas "aprendem" a retirar maior satisfação e/ou valorização de outras áreas da vida em substituição da conjugalidade. Umas dedicam toda a sua energia à educação dos filhos, outras dedicam-se de corpo e alma à profissão. Nalguns destes casos, há "affairs" que vão e vêm…
Mas neste processo não são só as más experiências que deixam de ser partilhadas. As vitórias, os hobbies e os interesses de cada um também passam a ser vividos individualmente. Ou, na melhor das hipóteses, estas actividades são partilhadas com os filhos.
À medida que o tempo vai passando e que as crianças deixam de estar dependentes dos pais, os membros do casal são forçados a despertar para uma nova e triste realidade: não investiram na sua relação amorosa e agora mal se conhecem. Partilharam a educação dos filhos, partilharam as finanças e… pouco mais.
Depois, no consultório, lamentam porque o cônjuge "não sabe de que tipo de música é que eu gosto" ou "não está atento aos meus interesses", mas esquecem-se de questionar o seu próprio comportamento. Até que ponto é que a azáfama e os filhos servem de álibi para que deixemos de ter paciência para o nosso amor? Em que momento do ciclo de vida é que as lamúrias do outro deixaram de ter importância?
Felizmente, há muitas pessoas atentas à sua conjugalidade e que, mesmo no meio de todos os outros problemas, não se esquecem de alimentar a relação amorosa. Aprendem a conciliar o papel conjugal com o papel parental (em vez de permitirem que o último substitua o primeiro), exploram as potenciais fontes de insatisfação e esforçam-se por proporcionar períodos de tempo só para o casal.
Estas pessoas estão menos expostas à síndrome do ninho vazio. Ou seja, a crescente autonomização dos filhos não os assusta. Pelo contrário, a aproximação da sua saída de casa (e o inerente desafogo financeiro) impulsiona o aparecimento de novos projectos a dois – viagens, saídas a dois etc.
Os casais que algures no tempo passaram a realizar percursos paralelos estão, naturalmente, numa posição de maior vulnerabilidade. Nestes casos, a saída de casa dos filhos é encarada como ameaçadora. "E agora?" parece ser a pergunta que se coloca nesta altura.
Alguns cedem à pressão e o divórcio é o passo natural. Outros encaram as dificuldades como desafios e lutam afincadamente. Também há os que reconhecem que sozinhos não conseguem resolver os problemas e decidem pedir ajuda.