Neste blogue tenho tentado abordar as dificuldades (e algumas soluções, espero) relacionadas com as diferentes etapas do ciclo de vida – formação do casal, nascimento do primeiro filho, educação das crianças, saída dos filhos de casa e síndrome do ninho vazio, por exemplo – mas também me tenho debruçado sobre momentos significativos que correspondem a interrupções (mais ou menos inesperadas) à sequência “natural” do ciclo de vida, como o divórcio. Enquanto processo cada vez mais vulgar nos nossos tempos, o divórcio já é considerado por muitos como mais uma etapa do ciclo de vida.
Existem outros “acidentes de percurso”, isto é, desafios que não são, à partida, expectáveis dos quais ainda não falei, mas que merecerão a minha atenção ao longo do tempo a que me dedicar a este diário virtual: a doença grave ou crónica de um familiar próximo, a infertilidade e a adopção, a viuvez precoce, a morte de um filho, entre outros.
Alguns estudos têm demonstrado que a morte do cônjuge ou de um filho é a situação mais geradora de ansiedade no ciclo de vida de uma pessoa. Um processo de divórcio, para quem não sabe, ocupa a segunda posição neste “ranking”.
Hoje resolvi escrever sobre a perda de um filho. Embora não tenha passado pela experiência, vivi-a de perto – muito perto.
O primeiro contacto que tive com esta realidade foi em contexto clínico, através do acompanhamento de uma senhora que, até hoje, não recuperou da perda. Desenvolveu um quadro psicopatológico grave que a levou a sucessivas tentativas de suicídio e diversos internamentos. Este caso impressionou-me bastante, mas creio que só compreendi a dimensão do problema mais tarde.
Embora raramente o faça, considero que a partilha de algumas experiências pessoais dos psicólogos podem ser terapêuticas para quem está do outro lado. Nesse sentido, partilhei uma vez em contexto clínico a minha experiência nesta matéria – hoje faço-o pela segunda vez. Há alguns anos perdi bruscamente um irmão, vítima de um acidente de viação – e, para além da minha dor, vivi de perto (e vivo até hoje), através dos meus pais, a dor de quem perde um filho. Lembro-me de na altura pensar que os meus pais eram AS ÚLTIMAS PESSOAS NO MUNDO a “merecer” passar por isto. Pensamento egoísta? Não. Dor. Profunda dor.
Temi que não sobrevivessem à angústia e ao desespero. Temi que jamais voltassem a sorrir. Afinal, EU SABIA o que os filhos representavam para eles: tudo!
Aprendi imediatamente uma coisa: não existem palavras de conforto que possam ser verdadeiramente eficazes. Frases como “Sê forte, afinal, tens outros filhos que precisam de ti.” não fazem o menor sentido… Durante um longo período nada parece fazer sentido. As pessoas “arrastam-se”, permitem que o tempo passe, mas não se sentem verdadeiramente vivas.
Cada pessoa fará o luto à sua maneira e, de um modo geral, o tempo é um bom aliado. Talvez a ferida nunca chegue a cicatrizar, mas é impossível viver o resto da vida “em carne viva”.
O aprofundamento que fiz sobre o tema (quer através das leituras da especialidade, quer através da experiência clínica) permitiu-me perceber que as famílias podem reagir de modo muito diferente a esta perda. Por exemplo, muitos casais não são capazes de continuar unidos, o que os leva a optar pelo divórcio. Esperar-se-ia, se calhar, que um acontecimento como este representasse sempre um pacto de união. Infelizmente, isso nem sempre acontece e algumas famílias desmembram-se.
Outra consequência possível relacionada com a forma como cada membro da família faz o seu luto está relacionada com o consumo de substâncias, sendo que a prevalência de alcoolismo aumenta de forma visível.
Mas se, por um lado, durante algum / muito tempo nada parece fazer sentido, também é importante realçar que existem formas de recuperar progressivamente a vontade de viver. Algumas pessoas beneficiam da ajuda de grupos de apoio constituídos por pessoas que viveram a mesma experiência, como a associação A NOSSA ÂNCORA. Outras “agarram-se” aos que ficaram, retirando desses afectos, o “soro” da recuperação. Outros precisarão de acompanhamento especializado – que pode ser feito através de terapia familiar, conjugal ou individual (nalguns casos combinada com terapia farmacológica).
Embora ainda não tenha aqui escrito sobre o que diferencia o luto normal do luto patológico (fá-lo-ei em breve), é importante que cada família avalie até que ponto estará a conseguir lidar sozinha com uma perda como esta. Desta avaliação pode resultar uma decisão importante: o pedido de ajuda.
A dor nunca chega a desaparecer, mas pode ser atenuada.
Infelizmente tenho contactado com diversas famílias que viveram (e vivem) esta realidade. Sinto que a minha experiência me permite empatizar melhor com cada uma destas situações, reconhecendo imediatamente as emoções vividas por cada pessoa.
Existem outros “acidentes de percurso”, isto é, desafios que não são, à partida, expectáveis dos quais ainda não falei, mas que merecerão a minha atenção ao longo do tempo a que me dedicar a este diário virtual: a doença grave ou crónica de um familiar próximo, a infertilidade e a adopção, a viuvez precoce, a morte de um filho, entre outros.
Alguns estudos têm demonstrado que a morte do cônjuge ou de um filho é a situação mais geradora de ansiedade no ciclo de vida de uma pessoa. Um processo de divórcio, para quem não sabe, ocupa a segunda posição neste “ranking”.
Hoje resolvi escrever sobre a perda de um filho. Embora não tenha passado pela experiência, vivi-a de perto – muito perto.
O primeiro contacto que tive com esta realidade foi em contexto clínico, através do acompanhamento de uma senhora que, até hoje, não recuperou da perda. Desenvolveu um quadro psicopatológico grave que a levou a sucessivas tentativas de suicídio e diversos internamentos. Este caso impressionou-me bastante, mas creio que só compreendi a dimensão do problema mais tarde.
Embora raramente o faça, considero que a partilha de algumas experiências pessoais dos psicólogos podem ser terapêuticas para quem está do outro lado. Nesse sentido, partilhei uma vez em contexto clínico a minha experiência nesta matéria – hoje faço-o pela segunda vez. Há alguns anos perdi bruscamente um irmão, vítima de um acidente de viação – e, para além da minha dor, vivi de perto (e vivo até hoje), através dos meus pais, a dor de quem perde um filho. Lembro-me de na altura pensar que os meus pais eram AS ÚLTIMAS PESSOAS NO MUNDO a “merecer” passar por isto. Pensamento egoísta? Não. Dor. Profunda dor.
Temi que não sobrevivessem à angústia e ao desespero. Temi que jamais voltassem a sorrir. Afinal, EU SABIA o que os filhos representavam para eles: tudo!
Aprendi imediatamente uma coisa: não existem palavras de conforto que possam ser verdadeiramente eficazes. Frases como “Sê forte, afinal, tens outros filhos que precisam de ti.” não fazem o menor sentido… Durante um longo período nada parece fazer sentido. As pessoas “arrastam-se”, permitem que o tempo passe, mas não se sentem verdadeiramente vivas.
Cada pessoa fará o luto à sua maneira e, de um modo geral, o tempo é um bom aliado. Talvez a ferida nunca chegue a cicatrizar, mas é impossível viver o resto da vida “em carne viva”.
O aprofundamento que fiz sobre o tema (quer através das leituras da especialidade, quer através da experiência clínica) permitiu-me perceber que as famílias podem reagir de modo muito diferente a esta perda. Por exemplo, muitos casais não são capazes de continuar unidos, o que os leva a optar pelo divórcio. Esperar-se-ia, se calhar, que um acontecimento como este representasse sempre um pacto de união. Infelizmente, isso nem sempre acontece e algumas famílias desmembram-se.
Outra consequência possível relacionada com a forma como cada membro da família faz o seu luto está relacionada com o consumo de substâncias, sendo que a prevalência de alcoolismo aumenta de forma visível.
Mas se, por um lado, durante algum / muito tempo nada parece fazer sentido, também é importante realçar que existem formas de recuperar progressivamente a vontade de viver. Algumas pessoas beneficiam da ajuda de grupos de apoio constituídos por pessoas que viveram a mesma experiência, como a associação A NOSSA ÂNCORA. Outras “agarram-se” aos que ficaram, retirando desses afectos, o “soro” da recuperação. Outros precisarão de acompanhamento especializado – que pode ser feito através de terapia familiar, conjugal ou individual (nalguns casos combinada com terapia farmacológica).
Embora ainda não tenha aqui escrito sobre o que diferencia o luto normal do luto patológico (fá-lo-ei em breve), é importante que cada família avalie até que ponto estará a conseguir lidar sozinha com uma perda como esta. Desta avaliação pode resultar uma decisão importante: o pedido de ajuda.
A dor nunca chega a desaparecer, mas pode ser atenuada.
Infelizmente tenho contactado com diversas famílias que viveram (e vivem) esta realidade. Sinto que a minha experiência me permite empatizar melhor com cada uma destas situações, reconhecendo imediatamente as emoções vividas por cada pessoa.
Nota final: Admiro profundamente a força de uma senhora que perdeu, em dois acidentes de viação separados por 4 anos, dois filhos. Não sendo a mesma pessoa que era antes, ela continua VIVA!