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17.4.06

QUANDO O CÔNJUGE SE TRANSFORMA NUM ESTRANHO

Um casal pode ser feliz durante anos e, ao fim desse tempo, começar a percorrer caminhos diferentes. A passagem do tempo implica, para alguns casais, a constatação de que já não partilham o mesmo projecto de vida. Pelo contrário, os casais que investem nesse projecto a dois, alimentando-o de forma activa e regular, tendem a sentir-se satisfeitos por mais tempo.

Existem alguns factores potencialmente desencadeadores do afastamento entre os membros do casal, no entanto, estes estão quase sempre associados a dificuldades de comunicação.

A Célia e o Francisco casaram muito jovens. Ambos trabalhavam e as poupanças permitiram que vivessem de forma desafogada no início do casamento. Alguns anos mais tarde, já com dois filhos, o Francisco decidiu voltar a estudar, o que implicou menos tempo disponível para a família. Apesar de a entrada para a faculdade ter sido decidida a dois, esta mudança acarretou um afastamento progressivo entre o casal.

O tempo passado na faculdade constituiu uma oportunidade de o Francisco alargar os seus horizontes, conhecer pessoas novas e escapar da rotina do seu quotidiano. No entanto, as responsabilidades domésticas passaram a recair maioritariamente sobre a mulher, Célia. Os tempos livres do casal diminuíram significativamente, bem como os pontos de interesse.

O Francisco sentia-se culpado por não poder contribuir tão activamente nas tarefas que até então pertenciam aos dois. Por outro lado, o cansaço levava a que a sua disponibilidade para os problemas familiares fosse cada vez menor. Além disso, consciente de que a mulher estava a ser sobrecarregada, o Francisco evitava partilhar as suas próprias dificuldades académicas.

O facto de a Célia ter optado por aliviar o marido dos problemas familiares implicou uma saturação pessoal e a sensação de abandono.

A partilha e o apoio emocional mútuo existentes no início da relação deram lugar ao afastamento e à procura de compreensão através dos amigos. O Francisco sentia-se mais satisfeito rodeado dos colegas de faculdade e a Célia encontrou apoio nos colegas de trabalho.

O pedido de ajuda ocorreu alguns anos depois de o Francisco ter concluído o curso. Nesta altura, a Célia tinha partilhado com o Francisco que, embora não tivesse sido infiel, tinha sentido uma atracção por um colega de trabalho. A possibilidade de aparecer uma terceira pessoa fez soar o alarme para o casal, apesar de as dificuldades terem surgido muito tempo antes.

A passagem dos anos implica muitas mudanças, algumas imprevisíveis. Os desejos pessoais também se alteram, pelo que é essencial que o casal tenha a capacidade de inovar o seu projecto a dois. Caso contrário, tenderão a efectuar percursos paralelos e, a partir de certa altura, sentirão que já não conhecem a pessoa com quem estão casados.

Importa referir que, para além da diminuição da tolerância e do espírito de sacrifício, característica dos tempos que vivemos, existe outro factor que pode contribuir para a precipitação do divórcio: o facto de homens e mulheres trabalharem rodeados de pessoas do sexo oposto que estão livres. Passamos cada vez mais tempo no local de trabalho, o que nos leva a desenvolver relações afectivas com as pessoas que trabalham connosco. Se as dificuldades conjugais não forem alvo de reflexão conjunta dentro da própria família, tenderão a agudizar-se. Paralelamente, as pessoas que compõem a rede profissional parecerão mais disponíveis, compreensivas e, consequentemente, maiores fontes de bem-estar.
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