Aquando da gravação de uma reportagem sobre a infidelidade deparei-me com a necessidade de clarificar alguns mitos mais ou menos enraizados socialmente. Estes mitos advêm quase sempre de ideias rígidas sobre um tema que é bastante dinâmico. Resolvi, por isso, desmontar algumas dessas questões.
1.º MITO: Toda a gente o faz. A infidelidade é um problema que afecta muitos casais, levando-os, cada vez mais, a procurar ajuda especializada. Quem trabalha com casais conhece a prevalência do problema mas não pode concordar com a ideia de que “toda a gente engana toda a gente”. Esse é um pensamento confortável para quem está na posição de cônjuge traidor. Eventualmente, aliviará algumas consciências, mas não corresponde à verdade. Existem muitos casais que, felizmente, vivem em harmonia sem passar por esta experiência. A verdade e a confiança são parâmetros valorizados pela maior parte dos casais e há muitas relações amorosas construídas nesta base.
2.º MITO: Quando é revelada, a infidelidade conduz, inevitavelmente, ao divórcio. Ninguém casa ou decide iniciar uma vida a dois a pensar na hipótese de ser traído, pelo que a generalidade das pessoas não sabe como reagiria a uma situação deste tipo. Os mais inexperientes tendem a dizer com grande à vontade que jamais perdoariam uma traição, contudo, a experiência clínica mostra-nos que estas palavras nem sempre correspondem à realidade. Na maior parte dos casos a infidelidade não é “o” problema, é uma manifestação de problemas mais complexos. Nesse sentido, há muitos casais para quem esta crise constitui a oportunidade para que a relação amadureça. O facto de os membros do casal decidirem voltar a lutar pela sua relação pode constituir o primeiro passo para o reforço da união.
3.º MITO: Quem trai não ama o cônjuge. Embora seja mais fácil pensar nestes termos, este pensamento está muito longe da realidade. Para muitas pessoas a infidelidade é a resposta possível a uma situação de insatisfação conjugal. Ainda que represente uma saída condenável, o início de uma relação extraconjugal está mais próximo da falta de capacidade para resolver os problemas do casamento do que da falta de amor. Mais: nem todas as relações extraconjugais são fruto de uma paixão avassaladora pela terceira pessoa. A saturação e o desgaste no casamento podem abrir espaço para a entrada de uma nova pessoa. A novidade da relação, baseada na sobrevalorização das qualidades e na subvalorização dos defeitos, confere a frescura que parecia perdida, mas pode dar lugar a sentimentos de culpa fortíssimos.
4.º MITO: A terceira pessoa é mais bonita, mais elegante ou mais inteligente do que o cônjuge. É legítimo que se pense que só faz sentido que sejamos trocados por alguém com “melhor cotação”, no entanto, os casos reais estão recheados de surpresas a este nível. Como referi atrás, o início de uma relação extraconjugal é baseado no que a terceira pessoa traz de novo. Como não há uma relação “oficial”, há questões que não se colocam nesta relação, pelo que tudo parece cor-de-rosa. A terceira pessoa representa, sobretudo, a oportunidade de viver momentos geradores de bem-estar (em oposição aos momentos de tensão do casamento). O que é valorizado é o prazer destes encontros, e não as qualidades pessoais do(a) amante. Alguns cônjuges traídos manifestam a sua estupefacção pelo facto de terem sido trocados por uma pessoa mais velha, mais gorda, ou mais desinteressante.
5.º MITO: A culpa é do cônjuge traído. Embora este seja um mito mais comum entre as gerações mais antigas, ainda não foi ultrapassado na totalidade. Ainda há pessoas que acreditam que a infidelidade só foi possível porque o cônjuge traído “não esteve à altura”. O pior é que há pessoas traídas que assumem este sentimento de culpa, procurando depois alterar o seu comportamento e imagem na tentativa de ir ao encontro das (supostas) necessidades do companheiro. Este preconceito pode levar a comportamentos obsessivos em que a pessoa procura imitar a(o) amante do cônjuge. Trata-se de um caminho sem saída. É preciso olhar para a relação no seu todo: compreender o papel que a infidelidade veio ocupar na história do casal é um processo mais complexo e profundo.
6.º MITO: A infidelidade apimenta a relação. Esta é outra ideia confortável para o cônjuge traidor. Ninguém gosta de ser enganado, seja em que área da vida for. Por isso, a infidelidade não pode ser confundida com o swing ou o poliamor. Nestes casos a presença de terceiras pessoas é um dado conhecido pelos dois membros do casal, pelo que não constitui uma traição. Pelo contrário, o carácter secreto de uma infidelidade é precisamente aquilo que mais faz sofrer o cônjuge traído. A revelação do problema representa uma quebra de confiança que nem sempre é recuperável.
7.º MITO: É possível esconder o affair e proteger o casamento. Mesmo que o cônjuge traído não decida tomar medidas radicais – como a contratação de um detective ou o controlo dos passos do traidor – a maior parte das relações extraconjugais acabam por ser descobertas. Nalguns casos as pistas tornam-se cada vez mais evidentes, noutros é a terceira pessoa que decide abrir o jogo… Infelizmente há cada vez mais casos em que são os filhos a “dar de caras” com o problema. A revelação do segredo pode constituir um forte abalo para todos os membros da família e, ao mesmo tempo, funcionar como um ponto de viragem. Nenhum casamento está protegido quando há segredos desta natureza.
8.º MITO: A infidelidade é mais comum entre os casais que estão sempre a discutir. Quantas vezes somos confrontados com histórias de infidelidade entre pessoas que pareciam, aos olhos de todos, casais modelo? A realidade de cada casal está muito longe da pequena parte a que temos acesso enquanto observadores. Como já referi múltiplas vezes, discutir não é necessariamente mau. Os casais que temem o confronto (e, por isso, não expõem as suas vulnerabilidades) estão tão expostos à ocorrência deste problema quanto aqueles que passam o tempo a discutir. A harmonia conjugal não é mensurável através do número de discussões.
9.º MITO: Quem trai não sofre. A infidelidade não pode ser confundida com um azar, fruto de qualquer conspiração divina. Quem trai faz uma escolha e deve assumir essa responsabilidade. Mas isso não implica que a pessoa mereça ser condenada ou que não esteja a sofrer. Poucas pessoas conseguem manter uma relação extraconjugal sem se sentirem debaixo de forte pressão. Os sentimentos contraditórios por que passam podem ser difíceis de entender para quem acabou de ser traído, mas são absolutamente expectáveis. A atracção pelo desconhecido e pela novidade combinam-se com sentimentos de culpa e amor ao cônjuge e podem gerar a sensação de que não há saída possível. Por isso, há pessoas que procuram ajuda especializada nestas circunstâncias.
1.º MITO: Toda a gente o faz. A infidelidade é um problema que afecta muitos casais, levando-os, cada vez mais, a procurar ajuda especializada. Quem trabalha com casais conhece a prevalência do problema mas não pode concordar com a ideia de que “toda a gente engana toda a gente”. Esse é um pensamento confortável para quem está na posição de cônjuge traidor. Eventualmente, aliviará algumas consciências, mas não corresponde à verdade. Existem muitos casais que, felizmente, vivem em harmonia sem passar por esta experiência. A verdade e a confiança são parâmetros valorizados pela maior parte dos casais e há muitas relações amorosas construídas nesta base.
2.º MITO: Quando é revelada, a infidelidade conduz, inevitavelmente, ao divórcio. Ninguém casa ou decide iniciar uma vida a dois a pensar na hipótese de ser traído, pelo que a generalidade das pessoas não sabe como reagiria a uma situação deste tipo. Os mais inexperientes tendem a dizer com grande à vontade que jamais perdoariam uma traição, contudo, a experiência clínica mostra-nos que estas palavras nem sempre correspondem à realidade. Na maior parte dos casos a infidelidade não é “o” problema, é uma manifestação de problemas mais complexos. Nesse sentido, há muitos casais para quem esta crise constitui a oportunidade para que a relação amadureça. O facto de os membros do casal decidirem voltar a lutar pela sua relação pode constituir o primeiro passo para o reforço da união.
3.º MITO: Quem trai não ama o cônjuge. Embora seja mais fácil pensar nestes termos, este pensamento está muito longe da realidade. Para muitas pessoas a infidelidade é a resposta possível a uma situação de insatisfação conjugal. Ainda que represente uma saída condenável, o início de uma relação extraconjugal está mais próximo da falta de capacidade para resolver os problemas do casamento do que da falta de amor. Mais: nem todas as relações extraconjugais são fruto de uma paixão avassaladora pela terceira pessoa. A saturação e o desgaste no casamento podem abrir espaço para a entrada de uma nova pessoa. A novidade da relação, baseada na sobrevalorização das qualidades e na subvalorização dos defeitos, confere a frescura que parecia perdida, mas pode dar lugar a sentimentos de culpa fortíssimos.
4.º MITO: A terceira pessoa é mais bonita, mais elegante ou mais inteligente do que o cônjuge. É legítimo que se pense que só faz sentido que sejamos trocados por alguém com “melhor cotação”, no entanto, os casos reais estão recheados de surpresas a este nível. Como referi atrás, o início de uma relação extraconjugal é baseado no que a terceira pessoa traz de novo. Como não há uma relação “oficial”, há questões que não se colocam nesta relação, pelo que tudo parece cor-de-rosa. A terceira pessoa representa, sobretudo, a oportunidade de viver momentos geradores de bem-estar (em oposição aos momentos de tensão do casamento). O que é valorizado é o prazer destes encontros, e não as qualidades pessoais do(a) amante. Alguns cônjuges traídos manifestam a sua estupefacção pelo facto de terem sido trocados por uma pessoa mais velha, mais gorda, ou mais desinteressante.
5.º MITO: A culpa é do cônjuge traído. Embora este seja um mito mais comum entre as gerações mais antigas, ainda não foi ultrapassado na totalidade. Ainda há pessoas que acreditam que a infidelidade só foi possível porque o cônjuge traído “não esteve à altura”. O pior é que há pessoas traídas que assumem este sentimento de culpa, procurando depois alterar o seu comportamento e imagem na tentativa de ir ao encontro das (supostas) necessidades do companheiro. Este preconceito pode levar a comportamentos obsessivos em que a pessoa procura imitar a(o) amante do cônjuge. Trata-se de um caminho sem saída. É preciso olhar para a relação no seu todo: compreender o papel que a infidelidade veio ocupar na história do casal é um processo mais complexo e profundo.
6.º MITO: A infidelidade apimenta a relação. Esta é outra ideia confortável para o cônjuge traidor. Ninguém gosta de ser enganado, seja em que área da vida for. Por isso, a infidelidade não pode ser confundida com o swing ou o poliamor. Nestes casos a presença de terceiras pessoas é um dado conhecido pelos dois membros do casal, pelo que não constitui uma traição. Pelo contrário, o carácter secreto de uma infidelidade é precisamente aquilo que mais faz sofrer o cônjuge traído. A revelação do problema representa uma quebra de confiança que nem sempre é recuperável.
7.º MITO: É possível esconder o affair e proteger o casamento. Mesmo que o cônjuge traído não decida tomar medidas radicais – como a contratação de um detective ou o controlo dos passos do traidor – a maior parte das relações extraconjugais acabam por ser descobertas. Nalguns casos as pistas tornam-se cada vez mais evidentes, noutros é a terceira pessoa que decide abrir o jogo… Infelizmente há cada vez mais casos em que são os filhos a “dar de caras” com o problema. A revelação do segredo pode constituir um forte abalo para todos os membros da família e, ao mesmo tempo, funcionar como um ponto de viragem. Nenhum casamento está protegido quando há segredos desta natureza.
8.º MITO: A infidelidade é mais comum entre os casais que estão sempre a discutir. Quantas vezes somos confrontados com histórias de infidelidade entre pessoas que pareciam, aos olhos de todos, casais modelo? A realidade de cada casal está muito longe da pequena parte a que temos acesso enquanto observadores. Como já referi múltiplas vezes, discutir não é necessariamente mau. Os casais que temem o confronto (e, por isso, não expõem as suas vulnerabilidades) estão tão expostos à ocorrência deste problema quanto aqueles que passam o tempo a discutir. A harmonia conjugal não é mensurável através do número de discussões.
9.º MITO: Quem trai não sofre. A infidelidade não pode ser confundida com um azar, fruto de qualquer conspiração divina. Quem trai faz uma escolha e deve assumir essa responsabilidade. Mas isso não implica que a pessoa mereça ser condenada ou que não esteja a sofrer. Poucas pessoas conseguem manter uma relação extraconjugal sem se sentirem debaixo de forte pressão. Os sentimentos contraditórios por que passam podem ser difíceis de entender para quem acabou de ser traído, mas são absolutamente expectáveis. A atracção pelo desconhecido e pela novidade combinam-se com sentimentos de culpa e amor ao cônjuge e podem gerar a sensação de que não há saída possível. Por isso, há pessoas que procuram ajuda especializada nestas circunstâncias.