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8.5.06

TAXAS DE DIVÓRCIO

Diversos órgãos de comunicação social divulgaram hoje notícias passíveis de induzirem em erro os leitores/ ouvintes/ telespectadores mais desatentos. O Público, na sequência dos dados difundidos pela agência Lusa, repôs o rigor necessário:

PORTUGAL CONTINUA A SER DOS PAÍSES COM MENOR TAXA DE DIVÓRCIO

A socióloga Anália Torres, investigadora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, esclareceu hoje que, apesar de o número de divórcios em Portugal ter aumentado, é "completamente falso" que o país seja o "campeão dos divórcios".

"O que aumentou foi o número de divórcios, que eram poucos em relação aos outros países", sublinhou a investigadora.

"É verdade que o crescimento foi grande, mas o número de que partimos era muito baixo", afirmou Anália Torres.

"Em Portugal, em três casamentos há um divórcio; em países como a Inglaterra, em dois casamentos há um divórcio", avançou a especialista.

Nos outros países "o crescimento foi menor porque já tinham elevadas taxas de divórcio", sublinhou.

Assim, através de meia dúzia de frases, os números difundidos pelo Instituto de Política Familiar tornam-se mais claros e, inevitavelmente, menos bombásticos. Em dez anos a taxa de divórcio em Portugal aumentou 89%. Mas isso não quer dizer que sejamos os campeões nesta área. Estivemos durante muito tempo, isso sim, muito atrás de outros países europeus.

E o que está na base destas alterações? Em primeiro lugar importa recordar que houve mudanças demográficas importantes. O facto de as mulheres portuguesas passarem a trabalhar fora de casa constitui uma alteração significativa. Esta emancipação representa, entre outras coisas, uma autonomia financeira pouco compatível com a atitude de sacrifício a que muitas mulheres se sujeitavam. Em resumo, a mulher deixou de ser o cônjuge que se anula em função do bem-estar familiar. Passou a poder escolher, sem estar dependente do dinheiro do marido.

Por outro lado, crescemos cada vez mais sob o paradigma do hedonismo – vivemos em função daquilo que nos dá prazer e aprendemos a reivindicar as nossas necessidades. Deste modelo resultam, claro, algumas desvantagens, também visíveis através das entrevistas hoje divulgadas. O facto de os processos de divórcio serem hoje mais rápidos – requerem apenas uma audiência, em vez de duas, por exemplo – faz com que haja mais casais que se divorciam em função de impulsos mais ou menos repentinos (e mais ou menos irreflectidos). Isto é, uma discussão mais acalorada pode levar a que a palavra divórcio dê lugar a uma decisão determinante. De facto, até há pouco tempo, alguns casais voltavam atrás neste processo (algures entre a primeira e a segunda audiência), o que mostra a pouca segurança inerente à decisão.

Mas o facto de estarmos menos predispostos ao sacrifício também tem vantagens. Enfatizamos cada vez mais a qualidade relacional em detrimento das formalidades. Há cada vez menos casais insatisfeitos até que a morte os separe. A insatisfação conjugal dá azo a taxas de divórcio mais elevadas, mas o facto de conseguirmos pôr um ponto final numa relação pode representar o primeiro passo para que possamos voltar a ser felizes.

Nunca é demais relembrar que, apesar de o divórcio ser um processo cada vez mais banal, isso não o torna menos penoso. Eventualmente há casais que se divorciam sem pensar muito no assunto. Mas, se calhar, a decisão de casarem também foi fruto de um impulso qualquer.

A crueza destes números disfarça o sofrimento por que passam milhares de famílias por ano - antes, durante e depois do divórcio. Sofrem os adultos e as crianças.
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