EXEMPLO 1: A Joana e o Bruno estavam a meio de um processo de terapia conjugal quando anunciaram que estavam interessados em complementar a intervenção através do recurso a consultas de Psiquiatria. Algumas semanas depois, o Bruno lamentou o facto de a mulher estar a tomar “muitos medicamentos”. Mais: na sua perspectiva, a mulher lera alguns artigos sobre a perturbação bipolar que condicionaram a sua exposição na consulta com o psiquiatra – “Ela disse aquilo que ele precisava de ouvir para fazer o diagnóstico”. Entre os medicamentos prescritos estava um estabilizador de humor, medicamento importante no tratamento da perturbação maníaco-depressiva (ou bipolar).
EXEMPLO 2: Há alguns dias, a propósito da hipótese de o Arquipélago dos Açores ser acometido pelo furacão Gordon, uma das estações de televisão decidiu ouvir alguns habitantes locais. Uma das senhoras entrevistadas relatou as medidas entretanto tomadas a título de prevenção: para além das mais previsíveis, optara por tomar um antidepressivo para dormir descansada.
A exposição destas duas situações permite-me dar sequência ao ciclo de textos sobre a depressão. Hoje optei por identificar algumas crenças erradas acerca dos “medicamentos para os nervos”.
Aquando da recolha de informação acerca do historial da senhora do Exemplo 1, soubemos que tinha tido uma depressão na adolescência, cujo tratamento foi feito através de antidepressivos. Mas dessa recolha não resultou qualquer indício de perturbação bipolar (caracterizada por oscilações de ciclos de depressão e ciclos de euforia). Não pretendo deter-me sobre as capacidades de diagnóstico do médico em causa (até porque este nunca usou o termo “bipolar” na conversa com a paciente). Pretendo, isso sim, chamar a atenção para a ilusão subjacente à busca de comprimidos milagrosos.
A vida é feita de momentos positivos e negativos e o amadurecimento requer que sejamos capazes de aprender a lidar com todo o tipo de emoções. Se, perante um problema, optarmos por nos alhearmos da realidade através do consumo abusivo de ansiolíticos, antidepressivos, estabilizadores de humor e afins, dificilmente desenvolveremos as aptidões necessárias para… viver. Limitar-nos-emos a sobreviver, anestesiados, sem que nos sintamos propriamente felizes.
A ideia (errada) de que este tipo de drogas possui propriedades mais-ou-menos-mágicas pode advir de múltiplas fontes – conversas com familiares ou amigos, interpretação abusiva de artigos médicos, Internet, etc. No entanto, importa conhecer o (real) espectro de dificuldades que podem beneficiar da ajuda destes medicamentos e os efeitos indesejáveis que daí advêm.
E, do mesmo modo que é preciso tempo para elaborar diagnósticos precisos – note-se que os técnicos de saúde mental “dependem” das descrições efectuadas pelos próprios pacientes – também é preciso tempo para que os medicamentos surtam efeito. Por exemplo, a maior parte das pessoas que iniciam um tratamento com antidepressivos só relatam alterações ao fim de algumas semanas.
Assim, torna-se difícil de aceitar que alguém – como no Exemplo 2 – possa recorrer a um destes comprimidos (ainda que se trate de uma dose extra) para anestesiar um problema. Neste caso, até poderia tratar-se de alguma confusão entre antidepressivos e ansiolíticos (calmantes). Ainda assim, o comentário induz em erro.
EXEMPLO 2: Há alguns dias, a propósito da hipótese de o Arquipélago dos Açores ser acometido pelo furacão Gordon, uma das estações de televisão decidiu ouvir alguns habitantes locais. Uma das senhoras entrevistadas relatou as medidas entretanto tomadas a título de prevenção: para além das mais previsíveis, optara por tomar um antidepressivo para dormir descansada.
A exposição destas duas situações permite-me dar sequência ao ciclo de textos sobre a depressão. Hoje optei por identificar algumas crenças erradas acerca dos “medicamentos para os nervos”.
Aquando da recolha de informação acerca do historial da senhora do Exemplo 1, soubemos que tinha tido uma depressão na adolescência, cujo tratamento foi feito através de antidepressivos. Mas dessa recolha não resultou qualquer indício de perturbação bipolar (caracterizada por oscilações de ciclos de depressão e ciclos de euforia). Não pretendo deter-me sobre as capacidades de diagnóstico do médico em causa (até porque este nunca usou o termo “bipolar” na conversa com a paciente). Pretendo, isso sim, chamar a atenção para a ilusão subjacente à busca de comprimidos milagrosos.
A vida é feita de momentos positivos e negativos e o amadurecimento requer que sejamos capazes de aprender a lidar com todo o tipo de emoções. Se, perante um problema, optarmos por nos alhearmos da realidade através do consumo abusivo de ansiolíticos, antidepressivos, estabilizadores de humor e afins, dificilmente desenvolveremos as aptidões necessárias para… viver. Limitar-nos-emos a sobreviver, anestesiados, sem que nos sintamos propriamente felizes.
A ideia (errada) de que este tipo de drogas possui propriedades mais-ou-menos-mágicas pode advir de múltiplas fontes – conversas com familiares ou amigos, interpretação abusiva de artigos médicos, Internet, etc. No entanto, importa conhecer o (real) espectro de dificuldades que podem beneficiar da ajuda destes medicamentos e os efeitos indesejáveis que daí advêm.
E, do mesmo modo que é preciso tempo para elaborar diagnósticos precisos – note-se que os técnicos de saúde mental “dependem” das descrições efectuadas pelos próprios pacientes – também é preciso tempo para que os medicamentos surtam efeito. Por exemplo, a maior parte das pessoas que iniciam um tratamento com antidepressivos só relatam alterações ao fim de algumas semanas.
Assim, torna-se difícil de aceitar que alguém – como no Exemplo 2 – possa recorrer a um destes comprimidos (ainda que se trate de uma dose extra) para anestesiar um problema. Neste caso, até poderia tratar-se de alguma confusão entre antidepressivos e ansiolíticos (calmantes). Ainda assim, o comentário induz em erro.