Não é preciso ser-se psicólogo para perceber o peso da educação na formação da personalidade de cada um, nem tão-pouco para constatar que os nossos pais são modelos fundamentais para esta estruturação. Ora, se estes adultos padecerem de dificuldades sérias de relacionamento interpessoal é natural que a educação das crianças seja afectada e que também estas, na idade adulta, possam experimentar algumas dificuldades.
Já aqui falei sobre alguns dos problemas que os filhos de alcoólicos enfrentam na idade adulta. Debruço-me hoje sobre outro tipo de “traumas” tantas vezes transportado para a idade adulta e com o qual me deparo amiúde no consultório. Refiro-me às feridas provocadas pela guerra, concretamente às feridas que esta deixou nos filhos dos veteranos de guerra.
Muitos dos homens que combateram em África experimentaram, após o regresso a Portugal, ataques de fúria, acompanhados de medo e/ou culpa. Atrevo-me a dizer que alguns continuarão a viver este tipo de episódios de forma continuada. Mas centremo-nos nas crianças (agora adultas): o que terão sentido os filhos ao perceber que o ‘papá’ voltou diferente? Por que sentimentos terão passado aquando destes ataques de fúria e de desespero? Perante a ausência de explicações claras, é quase certo que possam ter vivido uma sensação de abandono face a estes sintomas. O ‘papá’ seguro, a ‘fortaleza’ da família deixou de existir e deu lugar a um estranho…
Como se isso não bastasse, em muitos casos os veteranos sentem dificuldade em expressar emoções positivas, o que se traduz quase sempre na incapacidade de elogiar os filhos, valorizar as suas conquistas ou rir em família. Não é raro ouvirmos em contexto clínico frases como “Não me recordo de ver o meu pai rir à gargalhada em família” associadas a este tipo de casos.
Os filhos recordam-se quase sempre de um estado de grande irritabilidade e identificam dificuldades em comunicar de forma aberta. Frequentemente, quando confrontados com o que o pai pensa sobre um assunto qualquer, referem que não sabem responder. Na verdade, os laços não se estreitaram o suficiente para que o conhecimento mútuo fosse profundo.
Este distanciamento afectivo, associado quase sempre a um ambiente rigoroso e autoritário faz com que os filhos destes homens cresçam tantas vezes sozinhos. Em adultos, estas lacunas emocionais podem traduzir-se em estados depressivos, ansiedade e dificuldades de relacionamento. Ou ainda em níveis elevados de agressividade (não assumida) disfarçados de necessidade de ordem – os filhos dos veteranos de guerra podem assumir-se como perfeccionistas, como pessoas com gosto pela ordem e pelas regras, mas o seu comportamento é muitas vezes interpretado por quem está à sua volta como intolerância e altivez.
Nas situações mais complicadas a intransigência pode dar lugar a comportamentos anti-sociais, isolamento, dificuldades em manter relações afectivas e problemas com o álcool.
De um modo geral, este tema é alvo de pouca atenção, pelo que estes adultos (crianças na altura) nem sempre se sentem compreendidos. Para muitos, nem sequer há a percepção de que as dificuldades por que passam actualmente têm raízes na guerra. Mas têm. E é possível desmontar alguns ciclos viciosos e correr atrás de níveis mais elevados de bem-estar.
Já aqui falei sobre alguns dos problemas que os filhos de alcoólicos enfrentam na idade adulta. Debruço-me hoje sobre outro tipo de “traumas” tantas vezes transportado para a idade adulta e com o qual me deparo amiúde no consultório. Refiro-me às feridas provocadas pela guerra, concretamente às feridas que esta deixou nos filhos dos veteranos de guerra.
Muitos dos homens que combateram em África experimentaram, após o regresso a Portugal, ataques de fúria, acompanhados de medo e/ou culpa. Atrevo-me a dizer que alguns continuarão a viver este tipo de episódios de forma continuada. Mas centremo-nos nas crianças (agora adultas): o que terão sentido os filhos ao perceber que o ‘papá’ voltou diferente? Por que sentimentos terão passado aquando destes ataques de fúria e de desespero? Perante a ausência de explicações claras, é quase certo que possam ter vivido uma sensação de abandono face a estes sintomas. O ‘papá’ seguro, a ‘fortaleza’ da família deixou de existir e deu lugar a um estranho…
Como se isso não bastasse, em muitos casos os veteranos sentem dificuldade em expressar emoções positivas, o que se traduz quase sempre na incapacidade de elogiar os filhos, valorizar as suas conquistas ou rir em família. Não é raro ouvirmos em contexto clínico frases como “Não me recordo de ver o meu pai rir à gargalhada em família” associadas a este tipo de casos.
Os filhos recordam-se quase sempre de um estado de grande irritabilidade e identificam dificuldades em comunicar de forma aberta. Frequentemente, quando confrontados com o que o pai pensa sobre um assunto qualquer, referem que não sabem responder. Na verdade, os laços não se estreitaram o suficiente para que o conhecimento mútuo fosse profundo.
Este distanciamento afectivo, associado quase sempre a um ambiente rigoroso e autoritário faz com que os filhos destes homens cresçam tantas vezes sozinhos. Em adultos, estas lacunas emocionais podem traduzir-se em estados depressivos, ansiedade e dificuldades de relacionamento. Ou ainda em níveis elevados de agressividade (não assumida) disfarçados de necessidade de ordem – os filhos dos veteranos de guerra podem assumir-se como perfeccionistas, como pessoas com gosto pela ordem e pelas regras, mas o seu comportamento é muitas vezes interpretado por quem está à sua volta como intolerância e altivez.
Nas situações mais complicadas a intransigência pode dar lugar a comportamentos anti-sociais, isolamento, dificuldades em manter relações afectivas e problemas com o álcool.
De um modo geral, este tema é alvo de pouca atenção, pelo que estes adultos (crianças na altura) nem sempre se sentem compreendidos. Para muitos, nem sequer há a percepção de que as dificuldades por que passam actualmente têm raízes na guerra. Mas têm. E é possível desmontar alguns ciclos viciosos e correr atrás de níveis mais elevados de bem-estar.