A diminuição do desejo sexual é considerada disfuncional sempre que provoque ansiedade no próprio ou dê origem a problemas relacionais. No entanto, aquilo que acontece em muitos casos é o facto de a diminuição do desejo constituir uma manifestação de outras dificuldades e não “o problema” em si.
Um dos factores comummente associados à falta de desejo é o uso de determinados medicamentos. Os psicotrópicos (antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores de humor) são um exemplo, mas não constituem a única categoria em que este efeito secundário se manifesta – até um anti-hipertensivo pode estar na origem desta alteração. Não raras vezes a ineficiência na comunicação médico-doente pode dar origem a lacunas de informação, que, por sua vez, potenciam os equívocos na comunicação conjugal. Neste caso, embora a mudança na resposta ao estímulo sexual seja explicável pelo uso de fármacos, não deixa de originar problemas sérios. Pouco habituados a falar sobre a sua sexualidade com o médico de família, muitos casais portugueses acabam por fechar-se sobre si mesmos e sobre os seus fantasmas.
Do ponto de vista físico, a ausência de desejo sexual pode ser a tradução de uma situação de disfunção eréctil ou de vaginismo (contracção involuntária dos músculos próximos à vagina que impedem a penetração do pénis, dedo, ou espéculo ginecológico ou mesmo um tampão). Mas os factores fisiológicos não se esgotam nestas duas perturbações. Algumas alterações hormonais, por exemplo, também estão na génese deste tipo de problemas.
Do ponto de vista psicológico, o stress, o cansaço e os distúrbios do sono constituem os factores mais frequentemente apontados como subjacentes à diminuição do desejo. Genericamente, tratar-se-ão de situações pontuais e, por isso mesmo, solucionáveis através das competências do próprio casal. Mas se a falta de desejo se prolongar indeterminadamente, é possível que haja outras dificuldades:
- A mais frequente é o tédio, ou seja, o facto de o acto sexual (e, em muitos casos, o próprio relacionamento) ser quase sempre “aborrecido”.
- O facto de um dos membros do casal ser extremamente exigente do ponto de vista sexual pode resultar na diminuição do desejo.
- Algumas pessoas deixam de se sentir atraídas pelo seu cônjuge, mas não têm coragem de o dizer abertamente.
- Nalguns casos, o facto de um dos membros do casal ser demasiado autoritário e de o outro se sentir “dominado” faz com que a falta de desejo sexual constitua uma forma de exercer poder.
- Mas também pode tratar-se de uma situação de depressão.
As dificuldades na comunicação conjugal podem ser de tal ordem que um dos cônjuges acaba por usar o facto de estar doente, com dores ou cansado para evitar o acto sexual.
Adivinha-se, portanto, a importância do pedido de ajuda. Por mais constrangedor que seja, expor a intimidade sexual a um terapeuta especializado pode significar o primeiro passo na resolução de um problema que o casal não é capaz de gerir sozinho. Nos casos em que a base do problema é psicológica/ relacional, a terapia conjugal pode ser eficaz. Neste caso, é fundamental que o cônjuge da pessoa que não sente desejo sexual se mostre apoiante e compreensivo, sob pena de agudizar o problema.