Sónia, 35 anos, trabalha por turnos. Nem sempre consegue dormir as oito horas a que se habituou nos tempos de estudante, o que a deixa mais irritável. Os problemas no casamento vieram agudizar a situação. Às vezes, quando se vai deitar, olha para o marido – que dorme profundamente – e interroga-se sobre a sua serenidade: “Como é que ele pode dormir tranquilo quando as coisas estão neste ponto? Ele dorme, e eu fico sentada na cama a olhá-lo, irritada!”.
Existem vários “tipos” de insónias, mas as queixas podem resumir-se aos seguintes transtornos: dificuldade em adormecer, acordar frequentemente durante a noite (com dificuldade em voltar a adormecer), acordar “antes da hora” ou sentir que, por mais horas que se durma, o sono não é restaurador.
Este distúrbio do sono atinge pessoas de ambos os sexos e de todas as idades, contudo, a prevalência é maior nas mulheres (em particular durante a menopausa) e nos idosos. Pode tratar-se de uma situação pontual (insónia situacional), associada a um ou mais episódios de tensão, ou de um sintoma de alguma perturbação psicológica – ansiedade, pânico ou depressão, por exemplo.
Independentemente de qualquer tipologia, a insónia provoca inúmeros problemas durante o dia: fadiga, mal-estar, ardor nos olhos, dificuldades de concentração, irritabilidade, falta de energia.
O tratamento é variável e ajustado a cada situação: É importante averiguar as causas da insónia. Do mesmo modo que já existem terapêuticas eficazes no tratamento dos sintomas da menopausa, e que melhoram a qualidade do sono nas mulheres desta faixa etária, também existem respostas úteis às outras causas de insónia.
No que diz respeito à insónia transitória ou situacional, os cuidados com a higiene do sono podem fazer toda a diferença.
Higiene do Sono
Nem sempre preparamos convenientemente o nosso corpo para uma noite tranquila de sono, desvalorizando o peso de alguns comportamentos. Por exemplo, eis algumas das coisas que podem prejudicar o nosso sono:
- Tomar café (ou outras bebidas que contenham cafeína) à noite ou ingerir grandes quantidades desta substância ao longo do dia;
- Beber álcool antes de dormir – apesar de provocarem algum relaxamento, as bebidas alcoólicas impedem-nos de conseguir um sono profundo, deixando-o entrecortado;
- Fumar próximo da hora de deitar;
- Horários variáveis de deitar e de acordar;
- Passar longos períodos (diurnos) na cama;
- Fazer exercício físico próximo da hora de deitar;
- Planear, na cama, as actividades do dia seguinte;
- Ver televisão na cama – ainda que para muitas pessoas esta actividade seja sedativa, a verdade é que facilmente nos entusiasmamos e desregulamos os nossos horários;
Utilizar o computador (em particular o e-mail) próximo da hora de deitar.
Nalguns casos pode ser aconselhável tomar um ansiolítico. Mas esta terapêutica raramente é eficaz se houver problemas psicológicos associados. Nalguns casos até pode ser perigosa, já que pode provocar dependência (algumas pessoas aumentam progressivamente a dose do seu medicamento, ignorando os riscos psicofisiológicos). Tal como acontece com os antidepressivos, o uso de ansiolíticos deve depender de acompanhamento médico adequado.
Se a insónia estiver associada a uma perturbação ansiosa, alcoolismo ou depressão, o tratamento deverá incluir a psicoterapia.