Nos relacionamentos felizes e estáveis os membros do casal conseguem rir dos momentos mais embaraçosos ou desagradáveis – é frequente ouvi-los brincar com o facto de um deles se ter atrasado no dia de casamento, ou com o facto de alguma coisa não ter corrido bem durante o copo-d’água. À medida que desfiam o novelo destes percalços, acrescentam comentários positivos do tipo “Nós queríamos lá saber… estávamos tão felizes!”.
Quando a instabilidade toma conta da relação, os cônjuges só conseguem lembrar-se das adversidades. Acentuam-nas, desvalorizam os aspectos positivos e ainda atribuem culpas mutuamente. É como se a história do casal tivesse sido reescrita e tudo de bom tivesse sido apagado. Então, falam do dia de casamento com mágoa e ressentimento, sendo capazes de proferir frases como “Começou logo mal porque ele(a) se atrasou” ou “A festa foi um desastre”… Ou, ainda pior, sentem seríssimas dificuldades em recordar o passado – “Foi há tanto tempo”, como se não valesse a pena olhar para trás.
Quando olham para o passado recente, também há diferenças, consoante o grau de satisfação conjugal. Assim, se o marido se esquecer de colocar a rolha na garrafa de vinho francês que a mulher bebera (como prometera), a reacção que obterá pode denunciar o nível de tensão existente. Num relacionamento estável, ela tenderá a considerar que o marido “se distraiu com qualquer coisa” e minimizará o episódio. Mas num casamento instável, o mais provável é que a mulher considere que o marido “não passa de uma pessoa displicente e egoísta, que só pensa em si mesmo e que nunca cumpre o que promete”.
Em suma, se o passado a dois (recente e longínquo) é marcado por recordações negativas, é provável que o casal precise de ajuda.