Mas não são só as vítimas directas destes episódios que podem sofrer desta perturbação. Uma pessoa que assista a experiências emocionalmente traumáticas também pode sentir sérias dificuldades em libertar-se da ansiedade e do horror associados àquilo que testemunhou.
Daniel trabalhou durante duas décadas como agente da Brigada de Trânsito da GNR. Prestou assistência a muitas vítimas de acidentes de viação e, por isso, viu “de tudo”. Às vezes chegava a casa com a farta ensanguentada, como se tivesse sido baleado. Apesar de nunca se ter ferido com gravidade do ponto de vista físico, coleccionou algumas feridas psicológicas. E embora tenha deixado esta actividade há já alguns anos, ainda sente os seus efeitos. Há noites em que acorda atemorizado, levanta-se da cama e corre em direcção à rua. A mulher e os filhos habituaram-se a estes comportamentos repentistas e deixam-no ir. Sabem que voltará mais calmo, mas não estão certos dos pensamentos que o afligem.
Os sintomas do stress pós traumático incluem pensamentos assustadores recorrentes, memórias da agonia por que a pessoa passou, perturbações do sono, afastamento emocional (em particular em relação às pessoas que até aí eram próximas), ansiedade exacerbada, desinteresse, hipervigilância, irritabilidade e até violência. Mas esta sintomatologia pode não ser evidente nos primeiros tempos. Algumas pessoas só apresentam manifestações do problema anos após o evento traumático. Além disso, estas manifestações podem desaparecer e reaparecer, sem aviso prévio. Por exemplo, se uma pessoa tiver sido vítima de um assalto, o simples facto de voltar a ouvir no rádio do carro a música que estava a tocar na altura pode desencadear um ataque de ansiedade. Do mesmo modo, o som de uma forte rajada pode desencadear num veterano de guerra comportamentos aparentemente desajustados, como saltar para baixo da cama à procura de defesa (como se estivesse, de novo, debaixo de fogo).
A evolução da própria perturbação também é variável. Nalguns casos, e com a resposta adequada (normalmente através da combinação de fármacos e psicoterapia), a recuperação ocorre ao fim de aproximadamente seis meses, mas existem outros em que o tratamento é muito mais prolongado.
Mas nem todas as pessoas pedem ajuda. Algumas sentem vergonha, outras acham que devem enfrentar o problema sozinhas. E ainda há aquelas que pura e simplesmente não se sentem capazes de enfrentar/ falar sobre o evento traumático.
Quando não é tratada, esta perturbação pode implicar o aparecimento de outros problemas como depressão, ataques de pânico, alcoolismo ou toxicodependência.
Um psicoterapeuta experiente poderá ajudar alguém nestas circunstâncias a restabelecer-se explorando os pensamentos e as emoções associadas ao trauma, trabalhando eventuais sentimentos de culpa (muito comuns no caso dos sobreviventes de eventos que provocaram a morte de outras pessoas), explorando as questões relacionadas com a confiança, implementando estratégias para lidar com as recordações intrusivas e recorrentes e trabalhando o impacto da própria perturbação nas relações familiares do paciente.
Em Portugal, estima-se que esta doença atinja mais de 5% da população. Um estudo recente colocou em evidência os principais acontecimentos subjacentes ao aparecimento do problema: morte violenta de familiar ou amigo, ataque físico, acidente grave de viação, violação, abuso sexual antes dos 18 anos e combate.