Para esta jovem mulher o problema maior não advinha do facto de lhe ter sido diagnosticada uma depressão, nem do inêxito da medicação antidepressiva. A ideia de consultar um Psi, isso sim, significaria, aos seus olhos, que tinha um problema sério.
O estigma associado à saúde mental é um assunto pouco discutido mas com consequências potencialmente devastadoras. Sempre que adiamos a concretização de uma consulta de especialidade – seja esta de Oftalmologia, Ginecologia, Urologia ou outra – potenciamos a agudização do problema. Então, por que é que as coisas seriam diferentes no que diz respeito à saúde mental?
Perturbações como a depressão, o pânico ou o alcoolismo são quase sempre tratados com medicação e Psicoterapia. Contudo, existem muitos casos que continuam por tratar por causa dos preconceitos associados à Psicologia e à Psiquiatria. Desses preconceitos fazem parte:
- A ideia de que estas áreas de intervenção se destinam exclusivamente aos casos a que comummente chamamos de loucura;
- A fantasia de que, nestas consultas, a pessoa consultada deverá deitar-se e falar ininterrupta e friamente sobre os seus problemas;
- A percepção de que estas dificuldades são passageiras e não requerem intervenção especializada.
Mas nenhuma campanha anti-estigmatização em relação à saúde mental pode ser eficaz se não tiver em consideração o facto de, em termos sociais, também existirem preconceitos:
- A revelação de que uma pessoa sofre de uma perturbação que a leva a ser seguida por um profissional de saúde mental pode acarretar algum tipo de descriminação no local de trabalho – algumas pessoas chegam a perder o emprego;
- O facto de alguém ser seguido por um Psi ou tomar psicotrópicos é ainda motivo de troça ou de assédio moral;
- A doença física é considerada “normal” e tratável, mas a perturbação mental é, muitas vezes, encarada como uma “característica”, logo, não tratável (mesmo entre os familiares do doente).
- O recurso a este tipo de ajuda especializada ainda é visto como um sinal de fraqueza (quantas vezes ouvi dizer “Não tomo antidepressivos porque sou uma pessoa forte”!).
A maior parte das perturbações associadas à saúde mental não requer o internamento (ou institucionalização). Porque se insiste, então, em encarar a doença, nestes casos, como uma deficiência?
As pessoas que vivenciam estas perturbações devem ultrapassar as barreiras que descrevi, procurar ajuda, falar sobre aquilo que sentem e expor as suas dificuldades. E as pessoas que as rodeiam devem abdicar dos juízos de valor e adoptar uma postura empática. Afinal, estas perturbações são mais frequentes do que se imagina – e amanhã podem ser elas a precisar de ajuda.