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15.4.08

VAGINISMO

Ouvimos falar com regularidade nas diferenças de género em relação ao desejo sexual e nas desculpas que algumas mulheres “inventam” para justificar a falta de desejo sexual. Já aqui falei sobre o tema. Mas quando o que está por trás das dificuldades de natureza sexual é uma perturbação como o vaginismo, o desconhecimento ainda é grande. Por exemplo, algumas pessoas confundem vaginismo com “falta de vontade”. Ora, nada poderia estar mais errado! O vaginismo é a contracção INVOLUNTÁRIA dos músculos próximos à vagina que impede a penetração do pénis, dedo, ou espéculo ginecológico ou mesmo um tampão. Para as mulheres que sofrem desta perturbação, a penetração é de tal modo dolorosa que pode tornar-se inviável. Trata-se de uma perturbação angustiante mas para a qual há ajuda.

O facto de uma mulher sofrer de vaginismo não implica a ausência de desejo sexual. De facto, muitas vezes a mulher excita-se, deseja ter relações sexuais com o companheiro, mas é incapaz de evitar os espasmos musculares. Nalguns casos, a mulher é capaz de sentir prazer com os preliminares e até de atingir o orgasmo através dessas carícias – tudo sem penetração. Claro que também existem muitos casos em que a dor associada às tentativas de penetração condiciona o próprio desejo. A antecipação de que tudo possa correr mal novamente pode levar ao desinteresse e à aversão pela sexualidade.

Na generalidade dos casos o problema surge logo no início da vida sexual. Contudo, por vergonha, muitos casais hesitam em pedir ajuda, acabando por lidar sozinhos com o problema. Acabam por revelá-lo anos mais tarde, normalmente quando se coloca a hipótese de ter filhos.

Embora se trate de um problema físico, a causa é geralmente de natureza psicológica. Nos casos que acompanhei havia quase sempre um historial de mensagens negativas acerca do sexo – pais ou outros educadores extremamente conservadores, controlo rígido dos namoros, tabus a respeito do sexo e da sexualidade, associação do sexo ao pecado, medo de engravidar ou de contrair uma DST. Mas também existem casos que são desencadeados por experiências amorosas traumáticas, ou situações em que o vaginismo é a manifestação de desequilíbrios na relação amorosa actual (a mulher sente-se ameaçada ou dominada). O estudo das causas da perturbação inclui também o abuso sexual e violação.

Em consequência desta disfunção, podem surgir dificuldades sérias na relação conjugal: insatisfação, problemas de comunicação e/ou diminuição das manifestações de afecto. Em termos pessoais, é expectável que haja redução da auto-estima ou até sentimentos de culpa.

A contracção involuntária e recorrente dos músculos à volta da vagina pode ser confirmada no próprio exame ginecológico. Nessa altura, são feitos exames para despistar a existência de alguma causa fisiológica. A partir do momento em que esse factor for descartado, a mulher deve ser encaminhada para um profissional de saúde mental (psicólogo ou psiquiatra).

O tratamento desta perturbação pode incluir uma abordagem multidisciplinar, com o objectivo de reduzir a ansiedade associada à penetração. No que diz respeito à Psicoterapia, a intervenção pode ser individual, em grupo ou em terapia de casal. É importante que a mulher possa identificar os problemas psicológicos, traumas, medos e inseguranças que a impedem de viver a sua sexualidade de modo saudável. Na terapia de casal os cônjuges são ouvidos em conjunto e individualmente. O terapeuta procurará analisar o seu percurso individual, bem como os recursos e as dificuldades daquela relação. Como em muitos casos o vaginismo acaba por ser um protesto subconsciente às dificuldades da própria relação, esta abordagem torna-se a mais eficaz em muitos casos.

É fundamental que a mulher (o casal) confie no seu terapeuta. Uma boa aliança terapêutica é crucial para o sucesso do tratamento. Esta é, afinal, a disfunção sexual cujo tratamento tem a taxa mais alta de sucesso.

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