Mas as conclusões vão ainda mais longe, revelando sobretudo que a ignorância e o preconceito ainda vigoram:
- Cerca de 60% das pessoas que participaram nesta investigação consideram que quem sofre deste tipo de perturbações deve ser internado numa instituição psiquiátrica.
- 30% dos inquiridos consideram que as pessoas com perturbações ao nível da saúde mental não deveriam ter os mesmos direitos no que diz respeito ao acesso ao emprego.
Ultrapassados? Preconceituosos? De que adianta rotular as pessoas que participaram no referido estudo? De pouco ou nada, com certeza. Importa, isso sim, que médicos, psicólogos e utentes possam participar activamente no debate, contribuindo para o esclarecimento da população em geral. Como já tenho referido aqui, o preço desta ignorância é demasiado alto e pode atingir qualquer um. Não raras vezes, é o próprio doente de depressão, por exemplo, que revela que, antes de adoecer, tinha ideias preconcebidas acerca da doença.
A ignorância e o preconceito afectam directamente o doente que, por exemplo, começa por resistir ao pedido de ajuda especializada por vergonha e receio do estigma. Depois, ainda que ultrapasse as suas próprias ideias preconcebidas, pode deparar-se com o preconceito e com a ignorância dos outros, o que pode dificultar o processo de recuperação.
E porque a informação nunca é demais:
- As doenças psicológicas podem afectar QUALQUER PESSOA, de qualquer idade.
- Há factores físicos, psicológicos, familiares, sociais, ambientais e genéticos que podem contribuir para o aparecimento deste tipo de perturbações.
- As experiências traumáticas vividas na infância podem contribuir para o aparecimento deste tipo de perturbações na idade adulta, mas nem todas as pessoas que vivem estes eventos desenvolvem estas disfunções.
- A pressão profissional, os conflitos no local de trabalho e/ou altos níveis de stress podem contribuir para o aparecimento de estados depressivos e ansiosos.
- As pessoas que não têm uma boa rede de suporte – família e amigos – ou que não vivem próximas dessa rede tendem a sentir-se mais vulneráveis perante as dificuldades que têm que enfrentar e, por isso, estão mais expostas a estas perturbações.
- Não se pode esperar que estes transtornos desapareçam sem intervenção. Pedir ajuda especializada não é um sinal de vergonha. É, antes, um sinal de coragem. Sim, é preciso coragem para partilhar estas vulnerabilidades com um profissional e procurar activamente recuperar o bem-estar.
- As mudanças terapêuticas envolvem tempo e investimento, pelo que o doente não deve desistir do seu tratamento ao fim de duas ou três consultas. Mas qualquer pessoa deve sentir-se à vontade para questionar o seu terapeuta acerca do plano de tratamento. A inexistência de alterações pode requerer a mudança de terapeuta.