Se uma criança chegar a casa com um olho roxo ou com nódoas negras no corpo, os pais ou educadores aperceber-se-ão e, provavelmente, procurarão intervir. Se essa criança estiver a ser alvo de bullying na escola, isto é, se estiver a ser vítima de agressões e intimidação por parte de membros do seu grupo de pares, os adultos têm um papel importante no sentido de a ajudar a enfrentar o problema. Mas o que acontece se a intimidação e as agressões não se consumarem através de “carolos” e pontapés?
O bullying directo é apenas uma das formas de agressão a que as crianças e jovens estão expostos. O bullying social, marcado pela violência psicológica, é mais frequente entre as raparigas e pode ser mais difícil de identificar. É caracterizado por:
- Espalhar boatos acerca da vítima.
- Isolamento social da vítima – o grupo de pares recusa-se a conversar/ interagir com a pessoa em causa.
- Gozar com características específicas da vítima, normalmente através do sarcasmo e desprezo. O “alvo” da crítica pode ser a raça, a religião, uma peculiaridade física ou a forma de vestir, por exemplo.
O facto de não se tratar de agressões físicas não significa que esta forma de violência não deixe marcas. Pelo contrário! As consequências desta exclusão social podem estender-se até à idade adulta. E é precisamente nessa altura que muitas vezes são diagnosticados estados depressivos. A recordação destes eventos traumáticos é difícil de apagar, pelo que, não raras vezes, estas vítimas experimentam níveis de ansiedade elevados já na idade adulta, o que as impede de socializar de forma saudável. Nem o facto de, entretanto, terem conseguido construir a sua rede social as impede de viver o impacto da violência de que foram alvo – um estudo recente mostrou que o facto de estas pessoas terem o seu grupo de amigos não diminuía a probabilidade de sofrerem de depressão e ansiedade. Surpreendente, não?
Se as agressões psicológicas acabam por fragilizar tanto as suas vítimas, e se o impacto que agora começa a ser desvendado se estende ao longo de tantos anos, importa que estejamos, no mínimo, mais atentos ao que se passa nas escolas e – porque não? – nos locais de trabalho. É que este tipo de violência também é frequente entre adultos, nomeadamente em ambiente profissional, traduzindo-se por vezes numa forma de assédio moral.
Seja qual for o contexto em que o bullying social ocorra, pode acarretar a interiorização de pensamentos negativos, que conduzem ao progressivo isolamento social das suas vítimas. É frequente que, mais cedo ou mais tarde, a própria pessoa acabe por evitar situações que envolvam o contacto com estranhos e que até poderiam ser positivas.