Quanto tempo a mãe deve esperar para comunicar aos filhos e também ao resto da família o novo relacionamento?
Não existe uma regra universal aplicável a todas as situações. Como costumo enfatizar frequentemente, o mais importante é a honestidade: não será certamente prudente apresentar vários namorados às crianças após a separação. Por outro lado, e porque as crianças são muito mais perspicazes do que a maior parte dos adultos imagina, esconder-lhes uma relação amorosa não será a atitude emocionalmente mais inteligente. Se a própria mulher não se sente segura a respeito da relação que está a viver, é importante que adapte a explicação à idade da criança, permitindo-lhe que coloque todas as questões que entender. Ao criar este ambiente de confiança, a mãe sentir-se-á mais segura e com a situação sob controlo. Adiar esta conversa pode ser arriscado, até porque as crianças podem surpreender-nos com perguntas incómodas e, à queima-roupa, é seguramente mais difícil explicar-lhes tudo de modo razoável. Por outro lado, o facto de as crianças não colocarem perguntas não significa que não haja dúvidas. Nem que seja por precaução, ou por respeito à própria mãe, a criança pode escolher ficar calada, mesmo que suspeite que a mãe tem um namorado novo. Ora, se considerarmos, por exemplo, que as crianças pequenas fantasiam muito à volta dos seus medos, é legítimo considerar-se a hipótese de uma criança poder sofrer sozinha por imaginar que o novo namorado vai "roubar-lhe" a mãe. Como nenhuma mãe se sentirá segura com a possibilidade de não estar a dar resposta às necessidades emocionais dos seus filhos, é importante agir de forma proactiva.
É certo esperar até que o relacionamento fique sério, que exista de fato uma perspectiva de futuro para só então comunicar à família?
A família alargada constitui quase sempre um pilar fundamental aquando da separação. É a aos pais, irmãos e outros membros da família que a generalidade das pessoas recorre quando enfrenta um divórcio, e é do conforto e apoio dessas pessoas que resulta boa parte da energia necessária para recuperar a estabilidade. Ora, não será justo colocá-los à margem de um processo de reconstrução familiar. Claro que isso não significa que a pessoa deva sentir-se obrigada a apresentar a pessoa amada logo nos primeiros dias de relacionamento. E muito menos deverá implicar que a nova relação esteja dependente da aprovação dos membros da família de origem. Neste caso impõe-se que haja fronteiras nítidas com os familiares. Se as fronteiras forem demasiado rígidas, a pessoa tenderá a fazer as coisas como mais lhe convém, considerando que não deve satisfações a ninguém e adiando até à última hora apresentar o(a) novo(a) namorado(a) à família, causando desgaste, desconfiança e potenciais sentimentos de ingratidão. Por outro lado, se as fronteiras forem difusas, a confusão será maior e a própria pessoa tenderá a sentir-se pressionada a relatar cada detalhe da sua vida, o que não é saudável. A implementação de fronteiras nítidas permite que os familiares se sintam à vontade para colocar questões e que a própria pessoa seja capaz de responder de modo assertivo, à medida daquilo que estiver disposta a revelar. Dizer que está a sair com alguém que quer conhecer melhor é diferente de dizer que tem um namorado novo, ainda que possa ser menos claro. O importante é que a própria pessoa possa ser franca a respeito daquilo que quer para a sua vida, reivindicando a privacidade e o respeito que qualquer adulto merece.
E ao ex-marido ou ex-esposa? Deve-se alguma satisfação, nessa área?
O ex-cônjuge é também o pai/mãe dos filhos daquela pessoa pelo que, mesmo que haja cordialidade e respeito, é legítimo que surjam dúvidas e preocupações aquando do aparecimento de um novo adulto que, inevitavelmente, fará parte da vida das crianças, mesmo que a tempo parcial. Deter o controlo da situação pode passar por ser o próprio a revelar ao ex-cônjuge que existe um novo compromisso, nem que seja para evitar que lhe isso lhe seja "atirado à cara". Não compete ao ex-companheiro emitir juízos de valor acerca da nova relação, a menos que esta constitua uma ameaça ao bem-estar das crianças. Mas para que o bem-estar das crianças seja salvaguardado é importante que exista a tal cordialidade entre todos os adultos e definição clara do papel de cada um.
Existem dicas sobre como contar? Que tipo de "tacto" é necessário para evitar aborrecimentos? Uma conversa prévia, ir preparando terreno ao longo do tempo, é uma saída?
Aos meus olhos, preparar o terreno não é mais do que ir partilhando sentimentos e metas. Do mesmo modo que ninguém começa um relacionamento com a certeza de que vai casar com aquela pessoa, não é possível dizer às crianças ou mesmo à família alargada que há um adulto que passará a fazer parte das suas vidas no início de uma nova paixão. Se houver alterações de comportamento, se a pessoa passar a sair mais vezes ou a chegar mais tarde a casa, é legítimo esperar que as crianças e os outros familiares se apercebam de que há um "dado" novo. Mas como todas as relações precisam de amadurecer, cabe ao próprio avaliar até que ponto é prematuro falar-se da existência de uma relação amorosa. Não há, do meu ponto de vista, qualquer erro a apontar a alguém que é capaz de dizer, por exemplo, que tem saído com a pessoa "X", que não é um namorado, mas alguém de quem gosta muito e que ainda está a conhecer melhor.
A abordagem deve ser diferente - e em quê - com os filhos e com o resto da família?
A responsabilidade de qualquer adulto perante os seus filhos é sempre maior do que perante outros membros da família. Na verdade, nós, adultos, dispomos de uma série de ferramentas que nos permitem enfrentar as mais diversas situações, desde logo porque a nossa personalidade está estruturada. As crianças e adolescentes dependem dos modelos veiculados pelos progenitores para a estruturação da sua personalidade. Ainda que a honestidade e o respeito sejam tão essenciais num caso como noutro, os danos provocados pela falta de ponderação podem ser muito diferentes. Gerir de forma equilibrada a confiança e expectativas dos filhos implica maiores cuidados com a comunicação. Aquilo que é dito tem obrigatoriamente que ter em linha de conta a idade e características de cada criança/ adolescente.