O que é a depressão pós-parto? Por que surge?
A depressão pós-parto é uma das formas da doença depressiva. Desvalorizada durante muito tempo, nem sempre foi suficientemente bem diagnosticada. Existem, por isso, muitas mulheres que terão sofrido desta perturbação e que não terão obtido o tratamento merecido. Para além dos factores psicológicos, existem alterações hormonais que poderão estar na origem da doença. Sabe-se que logo a seguir ao parto a mulher atravessa uma quebra hormonal intensa e há estudos que apontam para a influência dessa alteração no estado emocional.
A azáfama natural deste período, associada ao desejo intenso de corresponder às expectativas sociais e familiares leva a que muitas mulheres evitem procurar ajuda, mesmo quando se sentem emocionalmente exaustas. Infelizmente, o facto de se recusarem a olhar para o problema não faz com que ele desapareça.
A maternidade é, em si mesma, avassaladora e com ela a mulher tem ainda que lidar com as alterações corporais, falta de tempo, noites consecutivas de sono entrecortado e falta de energia.
Quais os comportamentos mais frequentes na mulher com depressão pós-parto?
Não creio que possamos falar de comportamentos diferentes, mas antes de um estado emocional que é seguramente diferente. Como a exaustão acaba por estar associada ao nascimento do primeiro filho, pode ser difícil para a própria mulher reconhecer que estará a ultrapassar os seus limites e que o desgaste que atravessa já não é "normal". Como a pressão é grande, algumas mulheres atribuem a tristeza, a desmotivação e o desinteresse ao facto de estarem comprometidas com o papel maternal, que é muito absorvente. Mas a verdade é que se a mulher se sentir incapaz de enfrentar os diferentes papeis da sua vida deve procurar ajuda especializada, para que seja feito um diagnóstico rigoroso.
Como noutras formas de depressão, existem casos mais moderados e outros mais graves. Nos casos em que a depressão pós-parto toma uma forma mais severa, a mulher pode sentir-se incapaz de cuidar do seu bebé, ou recusar-se a fazê-lo, o que acaba por tornar o problema mais visível. Noutros casos, há um esforço sobre-humano para manter os cuidados prestados ao bebé, apesar da tristeza intensa, do cansaço anormal e do desespero que caracteriza o transtorno depressivo.
O suicídio pode ser o limite nestas situações?
Como referi antes, a depressão pode apresentar-se sob formas mais moderadas ou mais graves. Quanto mais grave for a situação, quanto mais severos forem os sintomas, maiores são os riscos. De um modo geral, a depressão pós-parto não evolui para uma situação de maior severidade, mas cada situação acarreta as suas especificidades.
Há pessoas mais propensas à depressão pós-parto que outras? Se sim, dê exemplos...
Qualquer mulher pode vir a sofrer de depressão pós-parto, mesmo que nunca tenha sofrido de qualquer perturbação emocional. Contudo, existem algumas mulheres que podem estar mais expostas a este transtorno:
- mulheres que sofreram de transtornos depressivos antes da gravidez;
- mulheres que já sofreram de depressão pós-parto numa gravidez anterior;
- mulheres que experimentem uma gravidez não desejada;
- mulheres que viveram problemas emocionais/ relacionais intensos durante a gravidez.
De que forma se pode ajudar as depressivas pós-parto? Qual o papel do marido nestas situações?
Como uma das grandes dificuldades está relacionada com a incapacidade de cumprir com todas as obrigações, a mulher que sofre de depressão pós-parto pode e deve ser ajudada por quem está à sua volta, nomeadamente pelo marido e pela sua própria família de origem. Um dos problemas mais comuns na vida de um casal depois do nascimento do primeiro filho prende-se com a dificuldade em gerir o seu tempo, bem como as tarefas que poderão ser desempenhadas por cada um. Actualmente é praticamente impossível que um dos membros do casal possa dedicar-se a tempo inteiro à criança nos seus primeiros tempos de vida, o que implica logo à partida algum desconforto quanto à ideia de “abandonar” o recém-nascido aos cuidados de terceiros. Se os dois membros do casal trabalharem fora de casa é de esperar que quer as tarefas domésticas, quer os cuidados prestados ao bebé sejam desempenhados a dois, no entanto, esta não é a alternativa mais frequentemente adoptada. Os estereótipos implementados na nossa sociedade levam muitas mulheres (e homens) a acreditar que o bebé deve ser mais acompanhado pela mãe. Nesse sentido, os homens são muitas vezes relegados para segundo plano no que respeita a este tipo de tarefas. Ora, no caso de um diagnóstico de depressão pós-parto a divisão destas tarefas torna-se ainda mais pertinente.
Quanto maior for a ajuda que a mulher receba nesta altura, maior será a probabilidade de ela se sentir "livre" para investir em si mesma, sem culpas ou remorsos. Por exemplo, conseguir ir ao ginásio duas vezes por semana pode ser importante para recuperar a energia, a auto-estima e o auto-controlo.
Além disso, é fundamental desmistificar a ideia de que a depressão é um sinal de fraqueza e ajudar a doente a recuperar a sua auto-estima, reconhecendo que este é um problema comum a muitas mulheres, e que é absolutamente tratável.
O acompanhamento médico é obrigatório?
Em muitos casos, o apoio da família é o suficiente para que a mulher recupere o seu bem-estar. Contudo, este princípio não é aplicável a todas as situações. Como comecei por dizer, existem muitos casos de depressão pós-parto que não são diagnosticados e que, por isso, não são tratados. Ora, algumas dessas situações acabam por arrastar-se ao longo de meses ou anos, implicando o sofrimento da mulher e da sua família. Não raras vezes, a mulher é confrontada com um diagnóstico de depressão anos mais tarde, apesar de a génese do problema estar no período pós-parto.
O acompanhamento médico permite que a mulher receba o tratamento adequado às suas dificuldades e possa ser encaminhada para um processo psicoterapêutico, que até pode incluir a participação do marido. Esta é a forma mais eficaz para recuperar o bem-estar e a harmonia.