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25.6.08

TESTE DE FIDELIDADE

Numa estação de Metro um homem jovem disse a um amigo, referindo-se a uma mulher, “Aquilo é um teste à fidelidade”. A frase, proferida num tom jocoso, levanta questões incontornáveis nos dias de hoje: Até que ponto somos fiéis? Será que a infidelidade atinge “apenas” os casais que não souberam dar resposta aos seus problemas? Haverá relações imunes à traição?

A resposta a estas questões está, do meu ponto de vista, associada aos diferentes tipos de infidelidade. Embora já tenha referido aqui que os motivos que conduzem um casal a uma situação de infidelidade são os mesmos que os podem levar à ruptura, é possível identificar diferentes padrões. Estes tipos de infidelidade variam consoante o papel que a traição desempenha na vida das pessoas envolvidas:

1 – A infidelidade pode ser uma forma de evitar os conflitos na relação conjugal.

Algumas pessoas encaram os conflitos como algo assustador, que poderá levar ao abandono e à perda de controlo da situação. Nesse sentido, perante um problema ou uma insatisfação, estas pessoas não são capazes de enfrentar o cônjuge, optando por negligenciar a discussão das suas diferenças. Acreditam que, desta forma, conseguem preservar a harmonia. Mas os conflitos conjugais desempenham um papel fundamental na adaptação a uma vida a dois. Quando os membros do casal optam por não discutir sobre as suas diferenças, na tentativa de não desapontar ninguém, estão, isso sim, a impedir que a relação cresça, pelo que, mais cedo ou mais tarde, sentir-se-ão frustrados e incompreendidos. São precisamente estes sentimentos que estão na base da infidelidade neste caso. A relação extraconjugal desempenha, aqui, o papel de valorização da personalidade do cônjuge que é infiel. A terceira pessoa não é, obrigatoriamente, alguém muito importante na vida deste membro do casal. Pelo contrário, as pessoas sentem um grande alívio quando a situação é descoberta, especialmente se isso for sucedido de uma tentativa honesta de resolver os problemas subjacentes ao comportamento infiel.

Alguns casais revelam que a descoberta do adultério constituiu uma autêntica "bomba" nas suas vidas, na medida em que não era habitual discutirem. Claro que a intervenção terapêutica neste caso incide fundamentalmente na identificação das dificuldades latentes. A anulação das suas personalidades ao longo do tempo termina com a descoberta do adultério e é normalmente seguida de uma grande vontade de mudar. Esta mudança passa, em grande parte, por desenvolver a assertividade do cônjuge infiel, já que este não está habituado a reivindicar as suas necessidades e a expor sentimentos.

2 – A infidelidade pode ser uma forma de evitar a intimidade na relação conjugal.

A partilha de intimidade entre o casal implica, necessariamente, a exposição daquilo que cada um tem de melhor e de pior. Tal como diz a canção, é preciso mostrar também o "lado lunar". Contudo, isso nem sempre é possível. Algumas pessoas parecem temer essa exposição, evitam aproximar-se demasiado, pelo que criam barreiras na relação conjugal. Uma dessas barreiras é o conflito. De facto, o tipo de ligação emocional existente entre estas pessoas e o cônjuge é normalmente baseado em conflitos frequentes e intensos, o que faz com que estes casais sejam exactamente o oposto do exemplo descrito anteriormente. O adultério surge aqui como mais uma barreira entre os membros do casal. Parece desempenhar a função de mostrar que não se necessita da outra pessoa (cônjuge traído). Estes casais optam muitas vezes por não mostrar as suas vulnerabilidades, sentem-se incompreendidos e é possível que ambos se envolvam em relações extraconjugais, na tentativa de encontrar alguém que lhes dê o devido valor. A fragilidade associada à necessidade de se sentirem amados e à incapacidade de se exporem leva a que se envolvam facilmente com pessoas próximas (amigos, colegas de trabalho, etc.). Sabe-se que muitas destas pessoas provêm de famílias caóticas, onde prevalecia muitas vezes o alcoolismo ou a violência.

3 – A infidelidade pode ser a expressão de insatisfação sexual.

O desejo de poder, associado a uma vida emocional pobre em termos de diversidade, parece estar na base de comportamentos obsessivos por relações sexuais. Embora em Portugal não seja muito habitual falar-se em adictos de sexo, são conhecidos alguns casos de pessoas, normalmente marcadas por uma fraca auto-estima, que vivem permanentemente insatisfeitas em relação às relações amorosas que estabelecem. A insatisfação leva a que procurem sistematicamente a felicidade através da diferença, do acto de experimentar situações novas. Embora a maior parte dos casos conhecidos sejam homens, começam a surgir dados indicadores da existência destes comportamentos nas mulheres. Estas pessoas procuram muitas vezes o sexo pelo sexo, sem que isso envolva uma grande ligação emocional. Este tipo de comportamentos pode, naturalmente, induzir o fim do casamento, mas isso não constitui um alívio para o cônjuge infiel. Isto é, embora o adultério, nestes casos, possa surgir como resposta à insatisfação sexual sentida dentro da relação conjugal, estas pessoas apercebem-se facilmente que as dificuldades não são atribuíveis ao cônjuge, na medida em que depois do divórcio sucedem-se normalmente vários relacionamentos fortuitos e pouco significativos em termos afectivos.

4 – A infidelidade pode ser uma forma de enfrentar o vazio emocional na relação conjugal.

É sabido que alguns casamentos não constituem verdadeiramente uma escolha. São, por exemplo, o resultado de pressões exercidas pela família de origem, uma gravidez não planeada ou outros factores. Embora esta situação seja cada vez mais rara, é possível encontrar alguns casamentos de longa duração deste género. Estas relações constituem muitas vezes anos de dedicação aos outros (ao cônjuge, aos filhos, à família de origem) e podem culminar com a descoberta de sentimentos que entretanto foram sacrificados em prol desses cuidados. Pode acontecer que por volta da meia-idade pelo menos um dos cônjuges sinta que desperdiçou parte da sua vida a dar resposta às necessidades dos outros. Nestes casos, o cônjuge infiel procura satisfazer as suas necessidades através da relação extraconjugal. Não é, por isso, de estranhar que esta constitua quase sempre uma relação séria, apaixonada e que perdura durante largos anos. Algumas relações extraconjugais chegam a durar dez anos ou mais. O cônjuge infiel vive dividido entre a relação conjugal e a outra, evitando olhar para dentro de si mesmo. Embora seja mais frequentemente um caso de infidelidade masculina (em que a terceira pessoa é, normalmente, mais nova), a tendência tem vindo a alterar-se nos últimos anos (as mulheres envolvem-se, regra geral, com homens mais velhos).

5 – A infidelidade pode ser uma forma indirecta de um dos cônjuges impor um fim à relação conjugal.

O fim de uma relação envolve quase sempre um estado de tristeza muito grande. Os sentimentos de desilusão, frustração e perda podem mesmo levar algumas pessoas a estados depressivos. Este estado é, talvez, mais intenso nos casos em que apenas um dos cônjuges quer pôr um fim à relação. Nalguns casais há um cônjuge que se "divorcia" emocionalmente do outro muito antes deste se aperceber, o que faz com que a relação possa durar mais alguns meses (às vezes cerca de um ano). Neste tipo de situações um dos cônjuges decide acabar com o casamento mas não tem coragem de "magoar" o outro. Assim, a infidelidade acaba por constituir uma "boa" justificação, já que leva, muitas vezes, a que seja o cônjuge traído a querer acabar com a relação. De facto, é mais fácil lidar com a raiva e com a ira do que com a tristeza e com a depressão. Claro que existe a possibilidade do cônjuge traído optar por perdoar a infidelidade, o que contraria as expectativas do cônjuge infiel. Na maior parte destes casos o cônjuge traído atribui a origem ao problema ao adultério, não sendo capaz de identificar as dificuldades que conduziram o casamento a este ponto. De facto, é muito mais fácil responsabilizar uma terceira pessoa pela alteração dos sentimentos do que olhar para os erros da relação conjugal. A intervenção terapêutica nestes casos deve, naturalmente, identificar os problemas manifestados e camuflados a que o casal não conseguiu, até aqui, dar resposta.

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