Para muitas pessoas o restabelecimento da confiança depois de uma infidelidade depende da clareza da resposta a algumas questões. Para outras, a “lista” de perguntas parece não ter fim. Finalmente, existem aquelas que consideram que as respostas são evasivas/ inconclusivas e que, por isso, as repetem até à exaustão. Usando uma piada do contexto médico: “se não morrer da doença, morre da cura”. Neste caso, é a relação que corre o risco de não sobreviver.
O facto de uma pessoa decidir dar uma nova oportunidade ao seu casamento depois de ter sido traída não implica que o consiga fazer ao ritmo esperado. Recuperar de uma infidelidade não depende apenas da força de vontade, nem da intensidade do amor. É preciso resistir à tentação de olhar sistematicamente para os detalhes da traição, sob pena de os membros do casal não conseguirem dar a devida atenção aos detalhes da sua conjugalidade. Em suma, esmiuçar assuntos relacionados com a infidelidade não é olhar para dentro da relação. É continuar a olhar para fora.
“Mas, afinal, por que é que DECIDISTE ser infiel?” aparece no topo da lista de perguntas mais colocadas. A pergunta, aparentemente razoável, pode ser uma espécie de ratoeira para ambos. É claro que, como em tudo na vida, a infidelidade também é uma escolha. Não me passaria pela cabeça dizer que é algo que “acontece, simplesmente”. Mas tenho grande dificuldade em empatizar com a ideia de que alguém “decide” ser infiel. Como a pessoa que traiu dificilmente consegue dar a “resposta certa” à pergunta, é muito fácil cair no padrão do ciclo vicioso (“Se ele(a) não responde, é porque ainda há motivos de preocupação”), alargando o fosso entre os membros do casal.
Também não é desejável criar tabus à volta dos acontecimentos. Afinal, fingir que não aconteceu nada é só adiar o inadiável. A reconstrução do casamento depende da capacidade para falar honestamente sobre os sentimentos associados à relação extraconjugal. Só depois disso é possível negociar exigências, fazer planos e voltar a confiar.
O equilíbrio nem sempre é fácil de alcançar, pelo que alguns casais chegam a sentir-se desesperançados, apesar de reconhecerem que se amam. A intervenção terapêutica pode ser uma ajuda.