A Vera e o João estão juntos há vários anos e a relação tem vivido períodos conturbados, marcados por desconfianças dela e algumas “facadinhas” dele. Apesar da agudização da situação conjugal, decidiram marcar férias a dois. Três dias depois de chegarem ao destino escolhido, a Vera suspeitou que o marido estaria a faltar-lhe à verdade. Os sinais, “clássicos”, soavam a déjà vu: o João passava longos períodos a falar ao telemóvel, alegadamente a preparar o trabalho que se seguiria às férias. Com a pulga atrás da orelha, a Vera ignorou as promessas que fizera a si mesma – tinha decidido que não voltaria a mexer no telemóvel do marido porque esse comportamento era, em si mesmo, humilhante – e encontrou uma mensagem comprometedora, através da qual o João demonstrava o seu envolvimento amoroso com outra mulher. Com a frieza característica de um nível extremo de degradação conjugal, a Vera decidiu reencaminhar a SMS para o seu telemóvel, que estava perto do marido, à beira da piscina. Dirigiu-se então à varanda do hotel e pediu ao João para ler a mensagem. Enquanto a mulher o observava aparentemente serena, o João fixou os olhos no ecrã e não foi capaz de reagir. As férias, para a Vera, acabaram ali.
Como conheço a história do casal, sei que este episódio não foi um acto isolado. Existem muitos espinhos no seu percurso. Tantos quanto os votos de amor eterno e as juras do tipo “Agora é que é! És o amor da minha vida”. Também sei que, nesse percurso, existem outros marcos relevantes, que funcionariam como ilustrações para o desenvolvimento de outros temas.
O incidente que marcou esta ruptura não constitui propriamente uma novidade em Terapia Conjugal. Há já alguns anos que o final do Verão traz até aos gabinetes de Psicologia histórias semelhantes. Afinal, o idílio das férias dá muitas vezes lugar à crueza da realidade. Como é nesta altura que os membros do casal estão mais tempo juntos, é expectável que o que fora camuflado no resto do ano com a azáfama do quotidiano venha à tona com toda a sua brutalidade. Os problemas sobressaem porque deixa de haver espaço para distracções. E na era das tecnologias de informação e comunicação, a revelação de uma infidelidade através de uma SMS começa a ser um cliché.