Como já tive oportunidade de referir, o álcool é a principal “droga” em Portugal, já que se trata da substância com mais dependentes. Muitas vezes camuflada pelas convenções sociais e pelo facto de nem sempre deixar marcas visíveis, esta é a substância que está por detrás dos problemas de muitas famílias. Entre alcoólicos e consumidores excessivos, o problema afecta cerca de 10% da população.
Se os números continuam a ser ignorados, ou pelo menos, subvalorizados, muito se deve ao facto de alguns doentes poderem ser chamados de alcoólicos funcionais – trata-se de pessoas que, apesar de não controlarem o consumo de álcool, mantêm uma vida aparentemente normal, conservando os empregos e outros compromissos. É por isso também que o problema pode receber outros rótulos. O alcoólico funcional raramente admite que tem um problema com a bebida – para ele, alcoólicos são os bêbedos de rua, aqueles que já não têm lar nem trabalho. E mesmo os familiares mais próximos podem sentir alguma dificuldade em encarar o problema.
Em sede de terapia conjugal já me confrontei inúmeras vezes com as consequências deste problema no casamento, ainda que em muitos casos a palavra “alcoolismo” não fosse mencionada. De qualquer modo, independentemente do nome que se dá ao problema, o que importa é o sofrimento que dele resulta. E no que diz respeito à conjugalidade, é só uma questão de tempo até os estragos se tornarem visíveis.
Como ninguém nasce alcoólico, o início de uma relação amorosa até pode não ser marcado por comportamentos aditivos. No entanto, à medida que o tempo passa o hábito de beber de vez em quando pode transformar-se num consumo mais regular, ou em quantidades cada vez maiores. A tal funcionalidade que referi antes é quase sempre usada como forma de alimentar o tabu: o cônjuge que se excede impede que o problema seja alvo de atenção, usando como argumento o facto de ser um profissional respeitado, blá, blá, blá… Mais: a pressão associada à profissão até pode ser usada como desculpa para o consumo.
Como o facto de não existir uma comunicação eficaz acerca do problema não o apaga – pelo contrário -, a satisfação conjugal vai decrescendo. O cônjuge do alcoólico sente-se isolado, incompreendido, frustrado. Sofre muitas vezes em silêncio, com vergonha de assumir o problema perante outros familiares ou amigos. Mas à medida que a insatisfação se alastra a outras áreas da conjugalidade, como a sexualidade, a confiança, o apoio mútuo ou a educação dos filhos, o fardo começa a parecer insuportável.
Mesmo que não haja comportamentos violentos, a qualidade do papel parental também decresce e é isso que tantas vezes faz transbordar o copo: o comprometimento do bem-estar dos filhos pode ser o factor determinante para dizer “Basta”. Mas, infelizmente, muitas famílias vivem o drama da violência resultante do abuso do álcool – seja ela física ou psicológica.
Para muitos o divórcio não é uma alternativa. Há a vontade de estar ao lado do alcoólico e a esperança de o poder ajudar. Só que para que sejamos capazes de ajudar alguém é preciso que estejamos bem e muitas vezes o cônjuge do paciente alcoólico desenvolve estados depressivos que não são diagnosticados. Além disso, o alcoólico pode recusar-se a admitir o problema e, consequentemente, rejeitar a ajuda terapêutica. Daí que em muitos casos o processo terapêutico seja iniciado com o cônjuge. À medida que o resto da família - cônjuge e filhos - mudam, é expectável que outras mudanças surjam e que o próprio alcoólico coopere com o tratamento.
O alcoolismo é uma doença da família, e não de doentes isolados. Se a intervenção terapêutica não abranger a família inteira, a auto-estima e a confiança podem ficar comprometidas. É importante recordar que as consequências físicas desta doença fazem parte do último nível dos estragos. Antes disso há a deterioração dos laços afectivos. E tal como acontece em muitos casos de cirrose hepática, os sintomas de que a saúde do casamento não anda bem podem demorar a aparecer. E quando aparecem pode ser tarde demais.
Se os números continuam a ser ignorados, ou pelo menos, subvalorizados, muito se deve ao facto de alguns doentes poderem ser chamados de alcoólicos funcionais – trata-se de pessoas que, apesar de não controlarem o consumo de álcool, mantêm uma vida aparentemente normal, conservando os empregos e outros compromissos. É por isso também que o problema pode receber outros rótulos. O alcoólico funcional raramente admite que tem um problema com a bebida – para ele, alcoólicos são os bêbedos de rua, aqueles que já não têm lar nem trabalho. E mesmo os familiares mais próximos podem sentir alguma dificuldade em encarar o problema.
Em sede de terapia conjugal já me confrontei inúmeras vezes com as consequências deste problema no casamento, ainda que em muitos casos a palavra “alcoolismo” não fosse mencionada. De qualquer modo, independentemente do nome que se dá ao problema, o que importa é o sofrimento que dele resulta. E no que diz respeito à conjugalidade, é só uma questão de tempo até os estragos se tornarem visíveis.
Como ninguém nasce alcoólico, o início de uma relação amorosa até pode não ser marcado por comportamentos aditivos. No entanto, à medida que o tempo passa o hábito de beber de vez em quando pode transformar-se num consumo mais regular, ou em quantidades cada vez maiores. A tal funcionalidade que referi antes é quase sempre usada como forma de alimentar o tabu: o cônjuge que se excede impede que o problema seja alvo de atenção, usando como argumento o facto de ser um profissional respeitado, blá, blá, blá… Mais: a pressão associada à profissão até pode ser usada como desculpa para o consumo.
Como o facto de não existir uma comunicação eficaz acerca do problema não o apaga – pelo contrário -, a satisfação conjugal vai decrescendo. O cônjuge do alcoólico sente-se isolado, incompreendido, frustrado. Sofre muitas vezes em silêncio, com vergonha de assumir o problema perante outros familiares ou amigos. Mas à medida que a insatisfação se alastra a outras áreas da conjugalidade, como a sexualidade, a confiança, o apoio mútuo ou a educação dos filhos, o fardo começa a parecer insuportável.
Mesmo que não haja comportamentos violentos, a qualidade do papel parental também decresce e é isso que tantas vezes faz transbordar o copo: o comprometimento do bem-estar dos filhos pode ser o factor determinante para dizer “Basta”. Mas, infelizmente, muitas famílias vivem o drama da violência resultante do abuso do álcool – seja ela física ou psicológica.
Para muitos o divórcio não é uma alternativa. Há a vontade de estar ao lado do alcoólico e a esperança de o poder ajudar. Só que para que sejamos capazes de ajudar alguém é preciso que estejamos bem e muitas vezes o cônjuge do paciente alcoólico desenvolve estados depressivos que não são diagnosticados. Além disso, o alcoólico pode recusar-se a admitir o problema e, consequentemente, rejeitar a ajuda terapêutica. Daí que em muitos casos o processo terapêutico seja iniciado com o cônjuge. À medida que o resto da família - cônjuge e filhos - mudam, é expectável que outras mudanças surjam e que o próprio alcoólico coopere com o tratamento.
O alcoolismo é uma doença da família, e não de doentes isolados. Se a intervenção terapêutica não abranger a família inteira, a auto-estima e a confiança podem ficar comprometidas. É importante recordar que as consequências físicas desta doença fazem parte do último nível dos estragos. Antes disso há a deterioração dos laços afectivos. E tal como acontece em muitos casos de cirrose hepática, os sintomas de que a saúde do casamento não anda bem podem demorar a aparecer. E quando aparecem pode ser tarde demais.