Desde tenra idade somos incentivados a definir metas, objectivos, prioridades. Ainda mal aprendemos a falar quando somos confrontados com perguntas como “O que é que queres ser quando fores grande?”, como se fosse imperativo delinear o nosso futuro a partir da infância. Nalgumas famílias a coacção vai ao ponto de os pais influenciarem as decisões dos filhos a propósito das escolhas académicas e profissionais – quantos jovens terão sentido a pressão para entrar em Medicina? Nos dias de hoje, ser doutor ou engenheiro é o mínimo que se exige. Observo diariamente pais que se matam, literalmente, a trabalhar para pagar colégios e faculdades, tudo com o objectivo de que os filhos possam vir a “ser alguém”. Em muitos desses casos, urge perguntar se serão esses os reais sonhos/ objectivos dos filhos. Afinal, do mesmo modo que nem todas as pessoas querem casar e/ou ter filhos, nem todos queremos ser doutores ou engenheiros.
Cada pessoa deveria ter direito a sonhar e projectar a sua vida de acordo com as suas próprias necessidades e ambições - evitar-se-iam com certeza muitas “crises de meia-idade”.
Conhecermo-nos a nós próprios e caminharmos no sentido da inteligência emocional implica sermos capazes de responder a perguntas como:
• Quais são os meus objectivos?
• Qual é a minha maior luta?
• O que é que estou a tentar realizar?
• Que legado gostaria de deixar?
• Como é gostaria de ser lembrado(a)?
Por mais mórbido que possa parecer, a elaboração do nosso próprio obituário é um bom exercício para quem mal se conhece a si mesmo. Afinal, se formos capazes de definir com clareza, honestidade e coragem a forma como gostaríamos de ser lembrados, a forma como gostaríamos que os outros olhassem para a nossa vida, seremos também capazes de identificar a que distância estamos da concretização dos nossos objectivos. Se um homem desejar ser lembrado, sobretudo, como um grande pai, como alguém que conheceu profundamente as necessidades dos seus filhos e procurou “estar lá” sempre que foi preciso, poderá ter que reequacionar as suas escolhas e, eventualmente, atribuir menor importância a outras áreas da sua vida. Mas isso não implica certamente que tenha que deixar de trabalhar e passe a estar em casa de plantão!
Nem todas as pessoas quererão ser lembradas como génios nas suas áreas de intervenção, mas há quem queira canalizar todas as suas energias nesse sentido. Quanto mais honestos formos, mais facilmente seremos capazes de fazer escolhas sem que nos sintamos pressionados.
Parar para pensar naquilo em que nos queremos tornar implica que sejamos capazes de enfrentar os nossos próprios fantasmas e que, com clareza, reconheçamos as mudanças que é preciso implementar para que nos aproximemos dos nossos objectivos.
Para algumas pessoas é importante definir objectivos concretos para daqui a 5 anos. Outras são incapazes de apreciar a vida com tamanha rigidez, mas isso não quer dizer que não se conheçam bem ou que não saibam para onde vão.
Desvalorizar os nossos sonhos é meio caminho andado para que, mais cedo ou mais tarde, descarreguemos a nossa frustração nos ombros de alguém.