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20.1.09

FERNANDA SERRANO



A notícia da gravidez da actriz Fernanda Serrano pouco tempo depois do fim dos ciclos de quimioterapia a que foi submetida na sequência do cancro de mama despoletaram uma série de interrogações de natureza médica e psicológica.

Dois jornalistas da revista TV 7 Dias pediram-me autorização para publicar excertos do texto que escrevi há algum tempo atrás acerca da sexualidade após o diagnóstico de cancro de mama. Além disso, colocaram-me algumas questões. Publico aqui as respostas na íntegra.

Que tipo de emoções podem nascer numa mulher que há poucos meses tinha medo de morrer e agora está a gerar vida?
Em primeiro lugar, não estou certa de que a actriz Fernanda Serrano tenha vivido com "medo de morrer". O facto de ter vivido uma situação de doença oncológica não implica, necessariamente, a antecipação da morte. Mais: o acesso a que a generalidade das mulheres tem na actualidade acerca do tratamento do cancro da mama constitui (mais) uma ferramenta para racionalizar e descatastrofizar a doença e a sua evolução. É possível que, apesar de não existirem planos para uma nova gravidez, a mulher possa continuar a investir noutras áreas da vida que a "obriguem" a olhar para o futuro com optimismo.

Neste caso, acredito que o facto de a actriz ter dois filhos muito pequenos a terá permitido manter-se agarrada à vida a todo o momento.

Aconselharia acompanhamento psicológico? Se sim, porquê?
Não conheço quaisquer dados que me levem a sugerir o acompanhamento psicológico. Nem sequer defendo a banalização do recurso aos serviços de Psicologia. Se existirem competências pessoais e familiares para enfrentar as etapas do ciclo de vida, e se os acontecimentos não implicarem o comprometimento da estabilidade de cada um dos membros da família, não há necessidade de intervenção terapêutica.

Sei que a actriz não planeou a gravidez, que impacto pode ter uma gravidez não planeada numa família?
De um modo geral, vivemos cada vez mais em função de planos, metas e objectivos. Ao mesmo tempo, o ciclo de vida das famílias é sistematicamente interrompido por mudanças inesperadas e que tanto podem incluir uma gravidez não planeada, como um divórcio ou uma situação de desemprego. Estas mudanças implicam quase sempre reestruturação e adaptação, mas não necessariamente crise. Quanto mais sólida for a união conjugal antes do "acidente de percurso", maior será a probabilidade de os membros do casal desenvolverem recursos para enfrentar a situação.
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