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22.1.09

SEQUESTRO EMOCIONAL



Helena saiu do trabalho determinada a passar a tarde com os filhos pequenos, como tinha planeado. Enquanto dirigia a caminho da escola das crianças, ruminava à volta da reunião que acabara de ter – o seu chefe criticou-a de forma violenta na presença de outros colegas, o que representou alguma humilhação. “Nada como uma tarde de compras para desanuviar”, pensou. No supermercado, ao mesmo tempo que as crianças se entusiasmavam com as prateleiras de guloseimas, os pensamentos de Helena versavam sistematicamente sobre os problemas no trabalho, alimentando uma raiva que parecia consumi-la. Quando o filho mais novo deixou cair várias caixas de cereais, espalhando flocos pelo corredor, a fúria de Helena fê-la gritar como nunca – com o rosto encarnado e as lágrimas a escorrer, exclamou “Idiota! Como é que é possível? Como? Como?” ao mesmo tempo que sacudia o corpo franzino do menino. O descontrolo deu rapidamente lugar ao embaraço e ao reconhecimento de que a reacção fora exagerada.

A expressão “sequestro emocional” advém dos estudos acerca da Inteligência emocional e é aplicável à ilustração anterior. Corresponde a uma explosão de raiva em relação a outra pessoa e é causada por um incidente aparentemente pequeno. Esta explosão pode implicar uma reacção agressiva do ponto de vista verbal, mas também alguma violência física (mais rara). Embora sejam normalmente curtos, estes episódios podem provocar danos quer para o próprio quer para quem está à volta e dão quase sempre origem a vergonha e arrependimento.

Para o próprio as consequências imediatas prendem-se com a instabilidade emocional, aumento da ansiedade e, quando os sequestros emocionais se tornam frequentes, aumento da tensão arterial e problemas cardiovasculares. Para quem está à volta também existem constrangimentos. Afinal, ninguém gosta de ser confrontado com explosões de raiva.

Qualquer pessoa já terá passado por uma situação de sequestro emocional, mas isso não significa que estas alterações bruscas possam surgir do nada. De um modo geral, elas ocorrem quando existem problemas que se arrastam durante algum tempo e que minam os nossos pensamentos. Chega uma altura em que esses pensamentos deixam de ser suportáveis e basta que ocorra um pequeno tumulto para que haja uma descarga emocional.

Prevenir a ocorrência de um sequestro emocional pode passar por evitar os pensamentos que alimentam a raiva. Como a explosão resulta de uma reacção impulsiva, importa sobretudo ser capaz de racionalizar sobre o problema e tentar diminuir o nível de raiva. Claro que falar é muito mais fácil do que fazer! Na verdade, a diminuição do nível de raiva depende sobretudo da capacidade para sair de cena, afastarmo-nos do problema e fazermos uma caminhada ou qualquer outra actividade interpolada que nos distraia e acalme. Para alguns, passa por ver qualquer coisa na televisão ou ouvir música; para outros, o relaxamento resulta da prática de exercício físico. O importante é sermos capazes de travar a escalada de pensamentos que alimentam a nossa raiva.

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