As estatísticas mostram que uma em cada quatro gravidezes termina com um aborto espontâneo. As razões por detrás destes números são diversas e não é sobre elas que me debruço hoje. Decidi falar, sim, sobre aquilo que acontece às mulheres que perdem os seus bebés durante a gestação – recordo que estamos a falar de 25% de todas as gravidezes.
A partir do momento em que uma mulher engravida – independentemente de se tratar de uma gravidez planeada ou não – começa imediatamente a pensar no seu bebé e a fazer planos. Nenhuma mulher pensa no facto de o seu “bebé” medir apenas 4 milímetros às seis semanas de gestação, pelo que a dor associada ao aborto espontâneo é a mesma, independentemente de ocorrer ainda antes da primeira ecografia.
A notícia da gravidez pode gerar um turbilhão de emoções e, não raras vezes, a mulher sente medo ou apreensão quando descobre que está grávida. Depois as emoções mudam, a afeição ao bebé cresce e, com o aborto, vêm os sentimentos de culpa. Muitas mulheres pensam que o aborto foi uma espécie de castigo pelo facto de não terem recebido a notícia da gravidez com total alegria.
Mesmo que a gravidez tenha sido recebida com uma explosão de alegria, os sentimentos de culpa podem surgir. Algumas mulheres culpam-se porque não repousaram o suficiente, rotulam-se de egoístas porque não abrandaram o ritmo profissional, punem-se por tudo aquilo que fizeram (e pelo que não fizeram) a partir do momento em que engravidaram. Mas a verdade é que a responsabilidade não é sua. Ao longo do primeiro trimestre há muitas complicações que podem ocorrer e a verdade é que há muito pouco que uma mulher possa fazer para evitar um aborto espontâneo. A perda do bebé acontece por razões biológicas, sobretudo. Claro que isso não diminui em nada o sofrimento da mulher.
Para os familiares e amigos pode ser muito difícil lidar com a angústia de quem passa por esta experiência. Alguns optam por não mencionar o assunto, procurando abordar temas “positivos”, na tentativa de fazer com que a mulher se distraia. Não sabem o que dizer e dão o seu melhor para que a vida continue. Outros fazem comentários aparentemente inofensivos como “Tu és nova, vais voltar a engravidar”, mas que acabam por magoar. Quando a comunicação falha, a mulher acaba por sofrer muitas vezes em silêncio, chegando ao ponto de chorar dias inteiros, sozinha. Enquanto familiares e amigos pensam que tudo está a evoluir bem, ela olha para as roupinhas que entretanto comprou e chora a sua perda com a sensação de que poucos a entenderão.
O luto pode envolver muito mais tempo do que a recuperação física. As emoções variam entre a tristeza, a raiva e o desespero. É preciso dar tempo para que a estabilidade seja recuperada e, nesse processo, é importante reconhecer que se precisa de ajuda terapêutica. O pior que pode acontecer é a mulher guardar o sofrimento para si.
Mas quais são os riscos associados ao isolamento? Por exemplo, alguns estudos têm demonstrado que as mulheres que passam por um aborto estão mais susceptíveis a transtornos depressivos, ansiedade, dependência de álcool e drogas do que as mulheres que nunca engravidaram. O aconselhamento psicológico é, por isso, um recurso importante no processo de recuperação e deve envolver todo o núcleo familiar.