Já experimentou certamente repetir aquele prato de que tanto gosta e ficar com a sensação de que teve “mais olhos que barriga”. Ou foi a um restaurante com rodízio e comeu demais. Não foi capaz de controlar a vontade de comer e acabou indisposto(a) e com algum sentimento de culpa. O mais provável é que, depois da experiência, tão cedo não volte a cometer o mesmo erro. Imagine que alguém é capaz de adoptar este comportamento alimentar pelo menos duas vezes por semana. Impossível? Não. As crises de voracidade alimentar constituem uma perturbação do foro alimentar, tal como a anorexia ou a bulimia.
Como este distúrbio foi identificado há relativamente pouco tempo, nem sempre é fácil diagnosticá-lo. Mas isto não quer dizer que se trate de uma doença rara. Este é o distúrbio alimentar mais frequente – afecta cerca de 3,5% das mulheres e cerca de 2% dos homens – Sim, ao contrário do que acontece com a anorexia, esta doença também atinge muitos homens.
Uma das dificuldades associadas ao reconhecimento do problema é o facto de, ao contrário do que acontece na bulimia, neste caso não existir vómito voluntário ou a prática exagerada de exercício físico.
As pessoas que sofrem de crises de voracidade alimentar comem de forma descontrolada e compulsiva, o que acarreta muitas vezes aumento excessivo de peso. Mas este comportamento também pode ocorrer na sequência de dietas auto-impostas, pelo que o excesso de peso nem sempre é um dos sinais da doença. Na verdade é relativamente fácil para estes doentes entrarem em ciclos viciosos – quanto mais peso ganham, mais se esforçam para cumprir uma dieta; quanto mais fazem dieta, maior a probabilidade de ingerirem alimentos em quantidades exageradas.
Mas o que implica, afinal, a voracidade alimentar? Implica que o doente coma mais depressa do que o normal, que o faça até se sentir fisicamente indisposto, que ingira grandes quantidades de comida, mesmo que não sinta fome, que coma muitas vezes sozinho por sentir vergonha da quantidade e que este descontrolo seja seguido de sentimentos de tristeza, culpa e desgosto.
Para além dos factores fisiológicos (ainda não há certezas em relação a uma possível predisposição genética) e da pressão social para que sejamos magros, existem factores psicológicos que estão associados a este distúrbio. As pessoas que sofrem desta perturbação têm normalmente uma baixa auto-estima, dificuldades em expressar e gerir as suas emoções e podem sofrer de transtornos depressivos e ansiosos. Algumas vítimas de eventos emocionalmente traumáticos – como as vítimas de violação – podem desenvolver este distúrbio como forma de lidar com as emoções.