Sucedem-se os estudos científicos e não-tão-científicos acerca da felicidade. Diria até que os povos ocidentais (aqueles que conheço) são mais ou menos obcecados em encontrar fórmulas para a felicidade. Há uma certa esperança em identificar os segredos que estarão na origem dos níveis mais elevados de bem-estar. Ignorar-se-á, do meu ponto de vista, uma das maiores riquezas da Humanidade: o facto de sermos todos muito diferentes e, por isso mesmo, podermos dar-nos ao luxo de ambicionar coisas (muito) diferentes.
Claro que vivemos (quase) todos sob paradigmas como o desejo de saúde, paz e dinheiro. Os clichés como “A vida são dois dias”, “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje” ou “O tempo não pára” são isso mesmo - clichés que repetimos até à exaustão, mas em relação aos quais não dedicamos dois segundos de reflexão. Perseguimos aquilo que nos dá prazer, insistimos em dizer que nos esforçamos para sermos mais felizes, mas raramente questionamos o nosso rumo.
Já aqui falei sobre a importância de se definir - com maior ou menor detalhe - objectivos de vida. A tomada de consciência daquelas que serão as nossas maiores lutas, as nossas “missões”, ajuda-nos a perceber a que distância estamos dos nossos sonhos. É que às vezes é mesmo muito fácil ser feliz.
A SIC emitiu no Dia da Mãe uma reportagem sobre uma aldeia de solteiras que constitui, aos meus olhos, um grande exemplo do que é levar a vida com sabedoria, com inteligência emocional. Não, não me refiro a nenhuma receita que possa ser reproduzida por todos os portugueses. Refiro-me, isso sim, à capacidade para escolher aquilo que se quer da vida, com autonomia suficiente para minimizar os padrões socialmente impostos.
Maria tem 85 anos e exprimiu com clareza aquilo que eu gostaria de dizer com essa idade: “A MINHA VIDA NÃO FOI GASTA, FOI VIVIDA”. O seu depoimento revela que é, de facto, possível ser feliz em qualquer lado, mesmo sendo a mais velha de 10 irmãos numa aldeia sem água canalizada. Mesmo que nunca tenha casado ou que nunca tenha tido filhos. “Solteira por vocação”, esta mulher aparentemente simples, simplória aos olhos de alguns, “viajou da Palestina a Roma, de Paris a Madrid”. E acrescenta: “Quem é a pessoa mais feliz? É aquela que procura fazer felizes os outros”.
Repito: não há receitas. Mas valerá a pena parar para pensar no caminho que estamos a percorrer, enquanto é tempo. Entre 3 ou 4 empregos em simultâneo, rendas para pagar e viagens em Agosto dir-me-ão que “Não há tempo”. E o que poderão dizer aos 85?