O alcoolismo é uma doença crónica. Como noutras adições, a dependência da substância (álcool) é o principal “rosto” do problema. Como já tive oportunidade de referir aqui, o facto de este ser um hábito enraizado e socialmente aceite dificulta muitas vezes a assunção e o reconhecimento da doença. Mesmo que o doente se sinta muitas vezes obcecado com o consumo ou não seja capaz de controlar o número de bebidas que ingere, a negação é muito mais frequente do que seria desejável.
Nalguns casos, existe um problema relacionado com o consumo de álcool, mas os sinais e sintomas são mascarados por tentativas mais ou menos eficazes no sentido de manter os compromissos sociais e profissionais. A verdade é que o consumo abusivo de álcool e o alcoolismo constituem autênticos problemas de saúde pública, cujas repercussões se estendem às relações familiares, ao trabalho, à gestão financeira e à saúde física.
Estou certa de que a generalidade dos leitores já terá ouvido maravilhas acerca do potencial terapêutico de um copo de vinho. De facto, existem alguns benefícios cardiovasculares associados ao consumo MODERADO de álcool, em particular na população idosa. Mas isso não diminui o grau de perigosidade inerente ao descontrolo, já que se estima que hoje o álcool seja responsável por cerca de 4% das mortes em todo o mundo. Na Europa os números são ainda mais assustadores: 10% das mortes podem ser directamente relacionadas com esta substância legal. Este é um problema que atinge homens e mulheres e que afecta sobretudo a população jovem.
Sabia que o consumo excessivo de álcool está na origem de doenças fatais como o cancro, ataque cardíaco ou cirrose? Ou que uma mulher que ingira três bebidas alcoólicas por dia aumenta em 15% a probabilidade de vir a sofrer de cancro da mama? Sim, o álcool é um agente carcinogéneo, infelizmente subestimado.
Tratando-se de um distúrbio que não afecta “apenas” o próprio, importa reconhecer que estamos a falar de uma doença tratável. O acompanhamento médico/ farmacológico, a Psicoterapia individual e familiar e os grupos de auto-ajuda formam uma abordagem multidisciplinar que pode dar resposta ao problema.