Quando alguém regressa ao trabalho e é confrontado com a pergunta “Então, como foram as férias?” é comum esboçar um esgar de resignação acompanhado de palavras como “Passaram depressa” ou “Foram curtas”. Claro que existem muitas pessoas capazes de aproveitar uma pausa e que regressam aos compromissos habituais com energias renovadas. Infelizmente, existem outras, para quem o fim das férias é sinónimo de sintomas que se assemelham aos de uma depressão. Não me refiro ao conceito de depressão sazonal, mas a um conjunto de sintomas que aparecem imediatamente a seguir a um período de descanso:
• Humor distímico;
• Falta de interesse em actividades que, no resto do ano, são vistas como entusiasmantes (sair com os amigos, ir às compras, etc.);
• Sensação de esgotamento;
• Fadiga física e/ou emocional;
• Alterações no sono e no apetite;
• Ansiedade, irritabilidade.
E o que está por detrás do aparecimento desta sintomatologia? As causas são variadas:
• Cansaço associado ao excesso de actividades realizadas durante as férias. Algumas pessoas definem objectivos irrealistas para a sua pausa anual: se se pretende descansar durante as férias, não será muito inteligente passar os dias a percorrer centros comerciais, ou passar todas as noites em festas “regadas” a álcool.
• Limitações financeiras resultantes de gastos excessivos. Infelizmente, nem todas as pessoas planeiam as suas férias de forma equilibrada. As viagens terminam, em muitos casos, com gastos muito acima do que estaria previsto, o que dificulta, claro, o regresso ao trabalho.
• Ocorrência de episódios de tensão/ discussões com membros da família. Como já tive oportunidade de referir antes, o período de férias é particularmente propenso à ocorrência de discussões familiares, já que é nesta altura que toda a família está mais disponível, o que muitas vezes implica o reacendimento de questões que ficaram adormecidas ao longo do ano de trabalho.
• Expectativas irrealistas. No fim de um ano de trabalho, o período de férias pode ser encarado como um tempo em que tudo “tem de ser perfeito”, como se aquelas semanas pudessem apagar todas as frustrações acumuladas ao longo dos últimos meses. Noutros casos, é a expectativa de que as férias deste ano possam equivaler às experiências vividas em anos anteriores que estraga tudo. Imagine-se, por exemplo, o caso de um marido que, ansioso por dar uma lufada de ar fresco ao seu casamento, decide regressar ao local da lua-de-mel e dá de caras com uma realidade completamente diferente.
O que podemos fazer para evitar que o regresso ao trabalho se transforme num período “negro”?
• Definir objectivos realistas. É importante reconhecer que, provavelmente, não é possível visitar todos os membros da família alargada neste período. Incluir deslocações de milhares de quilómetros sob temperaturas elevadas só para poder dizer “Olá” a alguns familiares e amigos não será uma boa ideia para quem esteja a precisar de renovar baterias.
• Encontrar algum tempo para estar sozinho(a). Nas férias estamos mais disponíveis para a família e é legítimo que queiramos aproveitar cada instante com aqueles de quem mais gostamos. Mas sejamos realistas: passar 24 horas por dia com toda a família também pode ser desgastante. Aproveitar uma ida às compras para respirar fundo e organizar o pensamento pode ser relaxante, como o será uma caminhada solitária na sua praia preferida.
• Dormir bem. Não será realista tentar manter os horários a que se habituou nos últimos meses. Aliás, estar de férias é precisamente não ter de se prender à ditadura do relógio. Mas a verdade é que quanto mais regular for o seu sono durante este período, maior será a probabilidade de se sentir efectivamente renovado aquando do regresso ao trabalho.
• Manter a prática de exercício físico. Se está habituado a praticar desporto no resto do ano, por que há-de entregar-se à preguiça durante 30 dias? O sedentarismo pode ser bem mais cansativo do que a prática de (qualquer) exercício físico.
• Beber com moderação. Estar de férias também é entregar-se aos prazeres da vida e isso pode incluir alguns excessos. Contudo, se transformar as suas noites de verão numa sequência de bebedeiras, é provável que se sinta (mesmo) deprimido(a) no final.
Se, apesar de todos os esforços, se sentir “em baixo” durante um período superior a duas ou três semanas, procure ajuda.