Quando se fala de perturbações de comportamento alimentar, fala-se sobretudo de saúde mental, ainda que, de um modo geral, estes transtornos condicionem (e muito) a saúde física. No entanto, muitos casos de anorexia, bulimia ou voracidade alimentar continuam a ser vistos como problemas menores, que requerem sobretudo esforço, força de vontade ou uma boa dose de vitaminas.
Numa altura em que acedemos com alguma regularidade a notícias que dão conta de programas mais ou menos estruturados para combater a obesidade infantil, é importante centrar uma parte da nossa atenção nos problemas psicológicos que resultam dos maus hábitos alimentares. A verdade é que se toda a gente sabe que um adolescente obeso dificilmente poderá ser um jovem feliz e integrado socialmente, poucos reconhecem que o excesso de peso pode ser apenas o começo de sérios distúrbios de comportamento alimentar. Porquê? Porque um adolescente gordo é muito mais propenso a induzir o próprio vómito, usar e abusar de comprimidos para emagrecer, laxantes e diuréticos, ao mesmo tempo que, às escondidas, vive episódios de voracidade alimentar.
Se nem todos os adolescentes com excesso de peso são jovens em risco, importa estar atento a alguns factores que potenciam o aparecimento destas perturbações. Por exemplo, os jovens que lêem frequentemente artigos relacionados com dietas, têm ligações familiares pobres, atribuem grande importância ao peso e já passaram por experiências pouco saudáveis para tentar controlar a sua imagem têm, claramente, uma probabilidade maior de vir a sofrer de alguma perturbação de comportamento alimentar. Nas raparigas há um outro sinal que pode ser indicador de risco acrescido: o aumento do número de horas consumidas na prática de exercício físico, particularmente se se tratar de jovens com fraca auto-estima.
De todos os factores listados acima, o empobrecimento dos laços familiares é, provavelmente, aquele que levanta maiores desafios. Se é verdade que para muitas famílias já nem sequer faz sentido que as refeições decorram em conjunto, a não realização destes rituais é só a ponta do icebergue. Infelizmente, é na família que começa a ser fomentada a auto-estima e nem sempre é fácil reconhecer que os padrões de relacionamento de uma família podem estar na origem de um problema sério de saúde mental.
Ainda que uma família pareça extremamente unida, é possível que estejamos perante comportamentos que traduzem sobretudo o emaranhamento das relações, e não verdadeira coesão. Por exemplo, uma mãe pode revelar-se obcecada com aquilo que os seus filhos comem, cuidando para que não lhes faltem alimentos saudáveis e, ainda assim, descurar a expressão emocional. Ela pode até assumir-se como alguém que gosta de conversar com os seus filhos, interessando-se sobre a forma como eles se sentem e, na realidade, ser sobretudo uma mãe autoritária, que impõe regras baseadas em padrões estabelecidos na infância dos filhos.