Já aqui explorei uma ou duas vezes a problemática da depressão pós-parto, tantas vezes subjugada, subdiagnosticada e subtratada. Hoje falo das consequências que esta perturbação traz ao desenvolvimento do bebé. Não seria preciso ser-se psicólogo para perceber que um recém-nascido depende do bem-estar dos seus cuidadores, particularmente da mãe, com quem cria os primeiros laços. Aliás, é precisamente o comportamento do bebé que muitas vezes permite que o transtorno depressivo seja identificado. A título de exemplo, é usual verificar-se que aquando da amamentação, se a mãe estiver deprimida, há uma forte probabilidade de o seu bebé não estabelecer contacto visual. Esta espécie de fuga ao estado emocional da progenitora não é mais do que uma resposta da criança ao facto de a mãe não estar emocionalmente disponível para corresponder às suas necessidades.
Os bebés são extremamente vulneráveis à depressão materna, já que dependem muito da qualidade dos cuidados e da capacidade de resposta da mãe. Mais: o impacto da depressão pós-parto pode estender-se a um período do desenvolvimento da criança posterior ao tratamento da perturbação.
Como nesta fase boa parte do desenvolvimento afectivo do bebé ocorre por processos imitativos, há uma espécie de microdepressão na criança, que tende a reproduzir o estado emocional predominante da sua progenitora. Estes bebés passam habitualmente mais tempo a evidenciar expressões de tristeza e raiva e menos tempo a demonstrar interesse por pessoas e objectos do que os bebés de mães não deprimidas.
No que diz respeito ao desenvolvimento emocional do bebé, existem três parâmetros que inevitavelmente são afectados por esta perturbação: a interacção social, a regulação do medo e a reacção fisiológica ao stress. De facto, por comparação com os bebés de mães não deprimidas, estes apresentam os níveis mais baixos de interacção social com a progenitora, são incapazes de se auto-regular perante situações em que é introduzida alguma novidade, estão mais agitados, gritam com mais frequência e reagem de forma mais pronunciada ao stress.
Nos casos em que o pai está presente e emocionalmente disponível, o seu papel ganha relevância, uma vez que ele pode funcionar como mediador da interacção mãe-bebé, influenciando directamente o desenvolvimento da criança. O facto de o pai interagir positivamente com o bebé pode compensar parcialmente a insuficiente disponibilidade emocional da mãe.