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2.9.09

OS MÉDICOS EVITAM PEDIR AJUDA PSICOLÓGICA


Sou questionada com alguma regularidade acerca do público-alvo do meu consultório. Há um interesse legítimo em conhecer o perfil de quem procura a ajuda especializada quando há problemas de natureza emocional. A verdade é que tenho trabalhado com pessoas de quase todas as classes profissionais, o que também inclui médicos e psicólogos. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, estes profissionais, que estão tão habituados a lidar com as dificuldades dos seus pacientes e a encaminhá-los para consultas de especialidade, nem sempre são capazes de pedir ajuda quando são confrontados com problemas pessoais desta natureza.

No que à minha experiência clínica diz respeito, os processos terapêuticos que envolvem profissionais de saúde acarretam os mesmos desafios, as minhas resistências e a mesma probabilidade de sucesso do que os outros. A diferença estará, admito, na percentagem de pessoas desta categoria profissional que é capaz de pedir ajuda.

É isso mesmo que indicia um estudo levado a cabo em Birmingham e que envolveu 3500 médicos (não psiquiatras). A grande maioria desta amostra, perante dificuldades relacionadas com a sua saúde mental, evita recorrer à ajuda especializada. Quase ¾ destes profissionais afirma que prefere abordar as dificuldades relacionadas com a sua saúde mental com a família ou com os amigos, alegando motivos como repercussões na carreira, integridade profissional e o estigma à volta deste tipo de perturbações. Apenas 13% afirma que daria a conhecer o problema a um médico de família ou a outro profissional de saúde. No que toca ao tratamento hospitalar, 79% optaria por uma instituição privada ou por um centro de saúde geograficamente afastado. Em qualquer dos casos, a decisão parece condicionada por preocupações relacionadas com a confidencialidade do processo e pelo medo de que estas informações possam comprometer a carreira e a reputação dos respectivos profissionais.

O que é preocupante é que os médicos que evitam recorrer à ajuda especializada na área da saúde mental podem estar a colocar-se a si mesmos e aos seus pacientes em risco. Os médicos estão expostos a pressões a que a generalidade da população não está. A incidência de depressão e o abuso de medicamentos são elevados, bem como a taxa de suicídios. Importa “educar” os médicos para a saúde mental e proporcionar-lhes opções de acesso ao tratamento.
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