Os efeitos terapêuticos da prática desportiva não se circunscrevem à saúde física. Independentemente da actividade escolhida, é possível melhorar o nosso estado emocional com a prática regular de desporto. De resto, proponho com frequência na minha prática clínica que as pessoas com transtornos depressivos e ansiosos escolham uma modalidade que lhes permita experimentar estes benefícios. Além disso, o exercício físico é, reconhecidamente, um precioso aliado à manutenção de um peso saudável e, portanto, contribui para que nos sintamos confortáveis com a nossa imagem corporal.
Mas aquilo que um estudo recente mostrou vai muito além destas conclusões. Ao contrário do que se poderia pensar, a prática desportiva contribui para o melhoramento da auto-imagem, independentemente do peso perdido. É o exercício em si mesmo que potencia a satisfação em relação ao próprio corpo. Assim, não são os quilos perdidos, a massa muscular ganha ou o melhoramento cardiovascular que potenciam a satisfação em relação ao próprio corpo. Em suma, não é preciso desenvolver um corpo atlético para que nos sintamos melhor em relação à auto-imagem.
Se tivermos em consideração que as preocupações com o corpo e com a imagem tomaram nos últimos anos proporções alarmantes, com cerca de 60% dos adultos a assumir insatisfação em relação ao próprio corpo, estes resultados tornam-se particularmente interessantes. Mais ainda quando se verifica que cada vez investimos mais meios para conseguir o peso e a imagem ideais – inclusive através de comprimidos que se apresentam como milagrosos ou de intervenções cirúrgicas arriscadas.
Em sede de terapia verifico que estas preocupações são hoje comuns a homens e mulheres de todas as faixas etárias. Mais: há crianças que também manifestam preocupação excessiva com o próprio corpo (o que implica quase sempre muito sofrimento).
Ora, aquilo que esta investigação vem dizer é que a partir do momento em que alguém dá início à prática regular de uma actividade desportiva, aumenta a probabilidade de se sentir melhor em relação ao próprio corpo, o que implica que os técnicos de saúde mental olhem para o desporto em geral como um recurso que não deve ser descurado.