Um estudo recente mostrou que as crianças com comportamentos mais agressivos e que se mostram normalmente mais irritadas e desatentas tendem a ter menos amigos do que as restantes crianças. Estas diferenças são visíveis ainda na idade pré-escolar, nomeadamente no infantário.
O momento em que uma criança entra para a creche ou infantário é cheio de mudanças e emoções novas. A partir daqui, a criança passa a desenvolver competências sociais, que lhe permitirão interagir com o grupo de pares. Apesar de todos sabermos que o comportamento agressivo é comum em crianças pequenas, é expectável que a socialização com outras crianças potencie o desenvolvimento de competências que permitam que a criança aprenda a controlar o próprio comportamento. Mas a verdade é que existem crianças que mostram comportamentos mais agressivos, ou que o fazem com mais frequência do que as outras. Acabam por agredir os colegas, por reagir através de manifestações de raiva e por manifestar maior dificuldade em concentrar-se nas actividades propostas.
É relativamente fácil identificar o padrão comportamental destas crianças: batem, empurram, resmungam, fazem birras, recusam-se a cooperar e dificilmente controlam as suas reacções. Independentemente de o seu alvo ser outra criança ou um adulto, o resultado é o mesmo: frustração, irritação e punição. Como estas crianças tendem a provocar o medo entre o grupo de pares, são normalmente postas de parte, pelo que lhes é mais difícil criarem amizades, gerando-se ciclos viciosos preocupantes.
Mas isto não significa que não haja nada a fazer. Pelo contrário, existem maneiras de lidar com o comportamento agressivo e desafiador das crianças. Em primeiro lugar, importa fazer a distinção entre mau comportamento e criança má. Mesmo quando a criança é agressiva, ou provoca o adulto, é importante aceitar que estamos perante um mau comportamento, em vez de rotularmos a criança. De resto, importa lembrar que os colegas serão os primeiros a fazê-lo – se a criança mostra sistematicamente maus comportamentos, acaba por ser rotulada. Mas a verdade é que estes maus comportamentos não são mais do que formas disfuncionais que a criança encontra para mostrar que está assustada, que se sente frustrada, chateada ou magoada. Acontece que, por algum motivo, não é capaz de mostrar estas emoções de modo ajustado.
Depois, importa reconhecer que, mesmo as crianças mais agressivas, não são sempre assim. Existem momentos em que o seu comportamento é adequado e compete aos adultos que a rodeiam reconhecer e elogiar esse esforço – seja quando a criança é capaz de trabalhar sossegada, seja quando coopera com os colegas. O elogio sincero é uma ferramenta eficaz na promoção dos bons comportamentos.
Outra “arma” importante para lidar com estas crianças é a capacidade para manter a calma. Trata-se de uma tarefa difícil, às vezes hercúlea, mas frutífera. A ideia de vermos uma criança a desafiar as regras, desobedecendo a tudo o que lhe é proposto fará, quase de certeza, com que a tensão arterial do adulto responsável suba vertiginosamente. Mas é importante reconhecermos que estamos perante uma criança que não é capaz de controlar as suas próprias emoções, pelo que, se o adulto perder as estribeiras, acabará por reforçar positivamente a agressividade da criança. Às vezes, o melhor é “sair de cena” e tentarmos acalmar-nos antes de reagir, mesmo que tenhamos que dizer à criança “O teu comportamento está a enervar-me tanto que eu preciso de me acalmar primeiro”. Mas depois é preciso voltar e actuar com a firmeza que a situação exige. Isto mostrará à criança que os adultos, tal como ela, também sentem raiva e ficam chateados, mas que isso não lhes dá legitimidade para agarrar no cinto e desatar à tareia.
Sendo a raiva a emoção mais fácil de sentir, muitas crianças acabam por usar o comportamento agressivo ou desafiador para mascarar outros sentimentos, como a tristeza profunda. É importante ajudá-las a usar as palavras para expressar a sua dor e/ou para falar sobre as situações adversas.