Porque é que alguém é infiel? Esta é, provavelmente, uma das perguntas com que mais frequentemente me confronto a respeito da infidelidade - quer em contexto terapêutico, quer quando sou questionada sobre o tema. De resto, enquanto o cônjuge traído não se sentir livre dos “porquês” que, pelo menos numa fase inicial, povoam o seu pensamento, não há margem para a reconstrução da relação. Paradoxalmente, é muito difícil para o cônjuge que foi infiel responder com clareza e honestidade a esta questão.
É relativamente fácil para um casal que esteja a tentar lidar com uma infidelidade cair em ciclos viciosos marcados por interrogatórios tensos e pouco frutíferos.
Antes de mais, importa esclarecer que a infidelidade pode atingir qualquer casal e que até as pessoas cujos comportamentos são habitualmente norteados por valores morais elevados podem cair em tentação. E porquê? Sobretudo porque desvalorizam, durante muito tempo, as suas próprias emoções. De facto, a ânsia por dias melhores, a vontade de preservar a harmonia, ou a simples crença de que é normal que, ao fim de algum tempo, a chama esmoreça podem fazer com que muitas pessoas se abstenham de ir manifestando a sua insatisfação conjugal.
Mas o facto de não exteriorizarmos as nossas queixas não faz com que elas desapareçam. Pelo contrário, essa falta de clareza promove os erros do nosso cônjuge, valida os comportamentos disfuncionais.
A páginas tantas, é mais fácil reconhecer o interesse por uma terceira pessoa e investir nessa relação do que voltarmo-nos para dentro do casamento.
Estar sob o guarda-chuva da paixão é estar sob uma espécie de céu nublado, que tolda a percepção da realidade. Talvez por isso, para muitos, não é fácil responder aos porquês. E é ainda menos fácil explicar como foi possível trair e continuar a amar o cônjuge.
Como tenho tido oportunidade de referir, a infidelidade é uma escolha. E é um comportamento que não dignifica ninguém. Mas, como terapeuta conjugal, sei que o sofrimento não está apenas do lado de quem é traído. A terapia serve para que os membros do casal possam chegar a um entendimento acerca das perguntas que têm mesmo de ser respondidas antes de se seguir em frente. Mas também serve para que se possa chegar a acordos, contornando determinados impasses. Afinal, à pergunta “Porque é que foste infiel?” pode seguir-se um processo complexo, que inclui o aprofundamento das necessidades de cada um, mais do que respostas simples que caibam em meia dúzia de frases.