O bullying faz cada vez mais parte do léxico de quem tem filhos em idade escolar. Como já tive oportunidade de referir, trata-se de uma forma de violência, nem sempre visível, muito comum entre crianças e jovens. Enquanto entre os rapazes o bullying traduz-se quase sempre em ameaças, intimidação e violência física, entre as raparigas a violência toma geralmente a forma de abuso emocional, ostracização e/ ou disseminação de boatos. Por se tratar de uma realidade com que os filhos se deparam quase sempre em contexto escolar, passa muitas vezes despercebida ao olhar dos pais, implicando não raras vezes o sofrimento isolado e contínuo.
Mas de acordo com algumas pesquisas que envolvem o estudo da relação entre irmãos em idade escolar o bullying não só atravessa os muros da escola, como pode muito bem começar em casa. Quando as crianças têm oportunidade de se manifestar acerca desta problemática, referindo-se à sua própria experiência, é possível estabelecer correlações significativas entre o padrão comportamental adoptado em casa e o padrão comportamental adoptado na escola. Assim, as crianças que são vítimas de bullying na escola mostram em muitos casos que se sentem vítimas dos irmãos mais velhos (rapazes). Mais: muitos dos rapazes que assumem que praticam formas de bullying na escola também reconhecem que o fazem em relação aos irmãos mais novos. Tratar-se-á provavelmente de uma tentativa de assumir uma posição dominante, de liderança, mas que pode deixar marcas emocionais sérias e que compromete a saúde da relação fraternal.
Entre as raparigas, não é tanto a diferença de idades que sobressai, mas antes a falta de qualidade na própria relação. Quanto maior o nível de conflito, e quanto menor o grau de empatia entre irmãs, maior é a probabilidade de existir um padrão relacional em que uma delas se sente ostracizada pela outra. Infelizmente, esta vitimização potencia a hipótese de a criança/ adolescente também ser vítima de bullying na escola.
Do olhar atento e da monitorização dos pais depende, em larga medida, a estabilidade emocional dos filhos. Aos pais compete reconhecer que todos os irmãos brigam, mas também compete tentar gerir e mediar os conflitos, impedindo a escalada de agressividade. Se há uma diferença de três ou quatro anos entre os irmãos e se essa relação for aparentemente marcada pela hostilidade, é importante parar para analisar o problema atentamente, sob pena de as consequências se generalizarem e comprometerem a saúde emocional das crianças / dos adolescentes.