Enquanto terapeuta familiar, trabalho muitas vezes com pessoas que se sentem “ensanduichadas” entre os afazeres relacionados com a família nuclear, e que incluem os cuidados prestados aos filhos, e os cuidados que são prestados aos pais e/ou avós idosos. Com a esperança média de vida a aumentar, não é fácil dar resposta a todas as solicitações, especialmente se tivermos em consideração que a maior parte destes cuidadores ainda trabalham fora de casa.
A verdade é que oito em cada dez pessoas encarregues de cuidar de um familiar que esteja de algum modo dependente acabam por sofrer de stress e ansiedade, independentemente das características sociodemográficas. Por questões afectivas, mas também financeiras, é sobre os familiares directos, e em especial as filhas, que recai a assunção dos cuidados prestados aos idosos dependentes.
Nalguns casos estes cuidados potenciam o aparecimento de comportamentos desajustados, que prejudicam a relação familiar. As consequências negativas vividas pelo cuidador – que trata do familiar idoso do ponto de vista físico, psicológico e social - estão directamente relacionadas com o isolamento social e com o sentimento de solidão.
A pressão associada à multiplicidade e à sobrecarga de tarefas afecta a saúde física e emocional do cuidador, comprometendo, claro, a sua própria capacidade para ajudar quem quer que seja.
Como refiro tantas vezes em sede de terapia, é preciso sabermos cuidar de nós para que estejamos prontos a amparar os outros. Dar o melhor de nós àqueles que amamos não implica super-poderes. Em muitos casos implica precisamente o contrário: a assunção de que é impossível fazer tudo sozinhos.