Já aqui tenho falado sobre a ambiguidade que circunda o diagnóstico da depressão pós-parto. Apesar de se tratar de uma perturbação conhecida e cada vez mais discutida nos meios de comunicação social, não posso deixar de referir que muitas mulheres estão literalmente dependentes da sensibilidade dos clínicos para que possam receber o devido acompanhamento. Tratando-se de uma experiência claramente positiva, o nascimento de um filho pode desencadear uma série de mudanças (fisiológicas e emocionais), que se traduzem, em muitos casos, em dor, ansiedade e depressão. 13 a 16 por cento das mulheres sofrem desta perturbação quando dão à luz pela primeira vez; no segundo nascimento os números sobem para 30 a 40 por cento.
Nem todas as mulheres são devidamente diagnosticadas, o que acaba por comprometer a sua recuperação. Mais: muitas destas mulheres chegam mesmo a sentir-se rejeitadas e incompreendidas – quer por familiares e amigos, quer pelos clínicos que as acompanham.
A verdade é que nem todos os clínicos têm formação em Psicologia ou em Inteligência Emocional. Sendo a Inteligência Emocional a competência que nos permite identificar e gerir as próprias emoções, bem como as dos outros, de forma construtiva, trata-se de uma capacidade que não pode ser desvalorizada. Se um médico ou um enfermeiro for capaz de aceder às emoções de cada paciente e de reflectir sobre elas, a qualidade do seu desempenho melhorará, permitindo que as mulheres nestas circunstâncias aprendam a lidar com as suas próprias emoções.
Este não é, ou não deve ser, um trabalho exclusivo de Psicólogos e Psiquiatras. Trata-se de providenciar a estas pessoas o respeito e a compreensão de que necessitam para que, eventualmente, possam ser acompanhadas em consultas de especialidade. Para algumas, bastará o conforto de poderem falar sobre emoções contraditórias desde o início da experiência da maternidade, precisamente para evitar que uma depressão grave possa instalar-se.
Sendo a Inteligência Emocional uma competência que pode ser aprendida / desenvolvida em qualquer fase da vida, todos os profissionais de saúde deveriam estar disponíveis para investir em formação nesta área. Este passo pressupõe a vontade de melhorar o próprio desempenho, o desejo de se estar atento e emocionalmente consciente das necessidades de cada paciente.