Falar-se sobre o luto continua, em certa medida, a ser um tabu. De resto, é-nos quase sempre difícil abordar os temas que envolvem a morte. Mas falar de luto é muito mais do que falar sobre a perda física de alguém de quem gostamos. É possível vivenciar o luto aquando do fim de um casamento, numa situação de doença grave ou depois de um acidente cujas consequências implicam alguma forma de incapacidade. Mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas têm de lidar com o luto – e podem fazê-lo de uma forma mais ou menos ajustada.
Até há relativamente pouco tempo, o luto era descrito como um processo mais ou menos padronizado, dividido por fases, cada uma marcada por um estado emocional. Hoje sabe-se que o luto é diferente de pessoa para pessoa. Não há uma forma “normal” de viver o luto. Cada pessoa poderá experimentar emoções diferentes, muitas vezes combinadas numa espécie de turbilhão avassalador. Os estados emocionais podem variar entre a negação, a tristeza, a raiva, a confusão, o desespero e até a culpa.
Nalguns casos, este sofrimento traduz-se num conjunto de manifestações físicas que incluem problemas de sono, alterações no apetite, quebras de energia e dores no corpo.
A duração do luto também pode variar de pessoa para pessoa – nalguns casos, este processo pode implicar vários meses, mas também existem pessoas que atingem a aceitação e a adaptação apenas ao fim de alguns anos.
Lidar com o luto implica sobretudo:
Ser capaz de expressar as emoções de forma clara. É importante aceitar que todos os sentimentos associados à perda são normais. Algumas pessoas reprimem a manifestação dos seus pensamentos e dos seus sentimentos por temerem que os seus familiares e amigos possam julgá-las (ou até vê-las como “doidas”). Fingir não é o caminho. A manifestação clara das emoções é a forma mais ajustada de lidar com o sofrimento. Assim, se alguém lhe perguntar “Como vai?”, tenha a coragem de dizer como se sente.
Organizar os pensamentos. Escrever regularmente (num caderno, num diário, num blogue, etc.) é uma forma terapêutica de lidar com a perda. Não se preocupe com os erros. Centre-se no reconhecimento e na aceitação dos seus sentimentos. Releia aquilo que escreveu antes e perceberá que, com o tempo, aparecem mudanças. Esta actividade ajudá-lo-á a perceber que todas as emoções são “normais” e que a sua intensidade diminui gradualmente.
Enfrentar memórias. Mais cedo ou mais tarde, virá o confronto com situações potencialmente desconfortáveis. Não tenha medo de chorar à frente de outras pessoas. Fugir das actividades que o façam lembrar a pessoa que perdeu não o ajudará. Dê a si mesmo a oportunidade de planear essas actividades e aceite alguns retrocessos. Rever fotografias, cartas ou postais faz parte do luto.
Adiar mudanças ou decisões importantes. No meio da dor, pode tornar-se difícil manter o discernimento necessário à tomada de decisões, como uma mudança de casa ou outras alterações que envolvam compromissos financeiros. Na impossibilidade de adiar decisões, aconselhe-se com familiares e amigos.
Cuidar da saúde. A nossa saúde física anda de mãos dadas com a saúde emocional, pelo que, mais do que nunca, é fundamental fazer uma alimentação cuidada, manter uma boa higiene do sono e limitar o consumo de bebidas alcoólicas. Além disso, a prática regular de exercício físico pode aliviar a ansiedade.
Ser paciente. Ainda que fosse desejável que o luto durasse apenas alguns instantes ou que pudéssemos ultrapassar o sofrimento da noite para o dia, esperar por mudanças drásticas e repentinas é absolutamente irrealista. É preciso tempo para que os sinais e sintomas associados ao sofrimento possam diminuir gradualmente. Para muitas pessoas, só ao fim de mais ou menos seis meses são visíveis mudanças.
Procurar ajuda. Há pessoas para quem a passagem do tempo não implica qualquer mudança, muito menos algum alívio. Se se sente preso a uma perda, é possível que esteja em risco de depressão, pelo que importa pedir ajuda especializada.