Já aqui falei algumas vezes sobre a importância do sono relativamente ao nosso bem-estar. Não é só a nossa saúde física que depende de hábitos de sono saudáveis – é também a nossa saúde psicológica. De resto, as perturbações do sono são comummente associadas a transtornos depressivos e ansiosos. Um estudo recente veio reforçar esta ideia, centrando-se nos hábitos e na saúde mental de uma amostra de mais de 15 mil adolescentes. Segundo esta pesquisa, os jovens com hábitos de sono previamente definidos pelos pais são significativamente menos propensos a sofrer de depressão e de ideação suicida. Aparentemente, o facto de os progenitores definirem a hora a que os seus filhos se deitam tem um efeito protector prolongando a duração do sono e aumentando a probabilidade de os adolescentes dormirem o suficiente.
Os resultados mostram que os adolescentes cujos pais fixaram a hora do deitar para a meia-noite ou mais tarde eram 24 por cento mais propensos a sofrer de depressão e 20 por cento mais propensos a ter ideação suicida do que os jovens cuja hora de deitar estava definida para as 22h ou mais cedo.
Os adolescentes que relataram que costumam dormir apenas 5 horas (ou menos) eram 71 por cento mais propensos a sofrer de depressão e 48 por cento mais propensos a pensar em cometer suicídio do que aqueles que relataram dormir oito horas por noite.
O estudo mostrou que os jovens que relataram que “normalmente dormem o suficiente” são significativamente menos propensos a sofrer de depressão e ideação suicida, reforçando assim a tese de que o sono inadequado desempenha um papel crucial na origem da depressão. Mais: a manutenção de hábitos de sono saudáveis parece ser uma medida preventiva contra a depressão e um tratamento para esta perturbação.
Entre os adolescentes que fizeram parte do estudo, a duração média do sono foi de sete horas e 53 minutos, contrastando com o que é recomendado pela Associação Americana da Medicina do Sono para esta faixa etária (nove horas ou mais).
Os participantes com hora de deitar fixada para as 22h ou mais cedo relataram que normalmente dormiam uma média de oito horas e 10 minutos, o que perfaz mais 33 minutos do que a média dos adolescentes com hora de dormir marcada para as 23h (dormem em média sete horas e 37 minutos) e mais 40 minutos do que aqueles com hora de deitar definida para a meia-noite ou mais tarde (dormem em média sete horas e 30 minutos).
A privação crónica de sono pode:
• Afectar a gestão emocional, comprometendo a capacidade para responder a estímulos negativos;
• Produzir mau humor, dificultando a capacidade para lidar com o stress diário;
• Prejudicar as relações dos adolescentes com os amigos e com os adultos à sua volta;
• Afectar o pensamento, a concentração e o controlo dos impulsos.
A intervenção comportamental junto dos pais e dos adolescentes sobre a importância dos hábitos associados a uma higiene do sono saudável pode funcionar como uma excelente medida preventiva dos transtornos depressivos e da ideação suicida.