Há algum tempo que me dedico ao aprofundamento do estudo da depressão durante a gravidez. Tratando-se a depressão de um assunto sensível, são conhecidos os medos associados à prescrição de medicamentos. Para muitas pessoas, tomar antidepressivos ainda acarreta o medo de se tornarem dependentes desta substância e/ou de que esta os deixe ainda mais incapacitados. No caso específico da depressão na gravidez, a resistência aos antidepressivos toma outros contornos, já que a questão está longe de ser consensual mesmo entre a classe médica.
Sem esta ajuda importante, o acompanhamento das grávidas com depressão fica muitas vezes restrito à Psicoterapia, que não está, ainda, ao alcance de todos. Deste modo, e porque o estigma desta doença é aumentado neste período em função das expectativas que se criam em torno daquele que é, aos olhos da sociedade, um dos momentos mais belos na vida de uma mulher, há muitas grávidas que não recebem qualquer tipo de tratamento para a depressão.
Como se sabe, esta falta de acompanhamento é perigosa, quer para a mãe, quer para o bebé. Mas se os estudos sobre a depressão pós-parto e o seu impacto no desenvolvimento da criança são relativamente conhecidos, o mesmo não é verdade em relação aos estudos longitudinais. O que acontece, afinal, a estas crianças quando crescem? Haverá algum impacto provocado pela depressão durante a gestação? Uma investigação, no mínimo, provocatória vem dizer que sim, sugerindo que as crianças cujas mães sofrem de depressão durante a gravidez têm maior probabilidade do que as outras de evidenciar comportamentos anti-sociais na vida adulta.
Além disso, este estudo também mostra que as mulheres que evidenciam comportamentos agressivos e disruptivos na adolescência são mais propensas à depressão na gravidez, pelo que a história de vida das mães pode ser preditora do comportamento anti-social dos filhos.
Tendo entrevistado 120 mulheres quando estavam grávidas, depois de darem à luz e quando os seus filhos tinham 4, 11 e 16 anos, os autores do estudo mostraram que as grávidas que sofreram de depressão durante a gravidez eram 4 vezes mais propensas a ter filhos adolescentes violentos (avaliados aos 16 anos) – quer se tratasse de um rapaz ou de uma rapariga. Esta correlação entre depressão na gravidez e violência das crianças não poderia ser explicada por outros factores, como a classe social, a estrutura da família, a etnia, a idade da mãe, a educação, o estado civil, o QI ou o diagnóstico de depressão noutros momentos da vida das crianças, pelo que se torna clara a necessidade de apoio terapêutico às grávidas com depressão.