Se, por um lado, é verdade que muitos dos nossos medos e vulnerabilidades têm origem na infância, por outro lado, são raras as tentativas de suicídio nessa fase. É na adolescência que nos confrontamos, de forma séria e mais estruturada, com a angústia e com o medo. Mas este é também um período turbulento, em que as mudanças físicas e emocionais se cruzam com inquietações que nos forçam a amadurecer. Trata-se de uma transição difícil para alguns, levando por vezes à confusão, ao isolamento e à ideação suicida.
Em Portugal, as estimativas apontam para 200 casos de suicídio por cada cem mil jovens, mas se analisarmos apenas as raparigas o número sobe para 600 por cem mil habitantes. O desespero e a rejeição estão quase sempre por trás destes números, bem como por trás de todas as tentativas de suicídio na adolescência. Mas existem problemas específicos que podem levar a esta situação. Por exemplo, os adolescentes homossexuais são muito mais vulneráveis a tentar o suicídio do que os adolescentes heterossexuais. Para outros, são as dúvidas e as pressões que acarretam um preço demasiado elevado. É particularmente difícil para um adolescente ser confrontado com problemas que estão fora do seu controlo, como o divórcio dos pais, o abuso físico ou sexual, a exposição à violência doméstica, o alcoolismo ou o abuso de outras substâncias.
Na maioria dos casos, a tentativa de suicídio ocorre na sequência de um estado depressivo, mas a verdade é que quase metade dos jovens entre os 14 e os 15 anos afirmam sentir alguns sintomas de depressão, pelo que, como se compreende, pode ser difícil reconhecer a dimensão do problema. Ainda assim, é possível prevenir o suicídio na adolescência, é possível estar atento a sinais e factores de risco:
• Isolamento em relação à família e aos amigos / colegas;
• Perda de interesse em actividades anteriormente tidas como agradáveis;
• Dificuldades de concentração;
• Negligência da aparência pessoal;
• Alterações drásticas de comportamento;
• Tristeza e desespero;
• Mudanças nos hábitos alimentares (e/ ou mudanças significativas de peso);
• Perturbações do sono;
• Baixa auto-estima e/ ou comentários auto-depreciativos.
Muitas vezes, os adolescentes vêm a público – por exemplo, através das redes sociais – falar (ou escrever) sobre os seus pensamentos mais negativos. Estes sinais devem ser levados a sério, e não ignorados. Estes são pedidos de socorro que exigem respostas antes que seja tarde demais.
Além da obviedade em relação à urgência de ser acompanhado clinicamente, é essencial que o adolescente perceba que há pessoas que se preocupam com os seus problemas, que se importam e que estão disponíveis para conversar. Isso implica ouvi-lo sem fazer juízos de valor sobre os seus sentimentos. É importante transmitir a mensagem de que há SEMPRE soluções para os problemas ou outra forma, que não o suicídio, para lidar com eles. Dar oportunidade para que o adolescente se abra, fale sobre as suas emoções, ajudá-lo-á a sentir-se menos só, menos desesperado.
Dentre as diversas formas de tratamento, hoje sabe-se que a terapia familiar é particularmente eficaz na redução dos pensamentos suicidas e dos sinais clínicos de depressão na adolescência. A maioria dos modelos de tratamento incide sobre o trabalho individual com os adolescentes, ajudando-os a aprender novas estratégias de enfrentamento e resolução de problemas. Mas o caos e os conflitos familiares podem contribuir para o suicídio dos jovens, tanto quanto o amor da família, a confiança e a comunicação clara podem reduzir os pensamentos suicidas.